Existe uma linha tênue entre a brincadeira e a ofensa. O icônico narrador Silvio Luiz excedeu esse limite e acabou ofendendo uma gandula durante a transmissão de um jogo do Campeonato Brasileiro da Série B, em 2014.
Na ocasião, o locutor fazia “piadas” com a forma física da profissional Renata Goulart, utilizando as palavras “gorda”, “gordinha” e “rechonchudinha” para se referir a ela.
Marcelo Elias Naschenweng, Juiz da 1ª Vara Cível de Santa Catarina, sentenciou que Silvio pagasse R$ 8 mil pelos comentários feitos durante a transmissão, enquanto a RedeTV! foi condenada a indenizar Renata em R$ 15 mil, em 2016.
Ambos recorreram da decisão. Contudo, no dia 20 de novembro de 2020, a desembargadora Rosane Portella Wolff recusou o pedido e manteve o veredito, agora em segunda instância.
Vale tudo?
Há quem defenda que, no ambiente do futebol, vale tudo em nome da diversão, do emocional e da raiva. O UOL Esporte teve acesso ao processo e relatou, em 28 de novembro de 2020, os argumentos da gandula, de Silvio Luiz e da emissora.
Renata argumentou que teve sua honra ferida e mencionou que sofreu transtornos psicológicos após o episódio.
“Em função da repercussão que tiveram no seu meio social, no qual passou a ser motivo para o riso dos outros, sendo chamada com frequência pelos termos utilizados pelo locutor, o que resultou em sofrimento, causado por problemas psicológicos, como a baixa em sua autoestima”, citava o documento.
Já Silvio Luiz se defendeu, dizendo que em momento algum teve intenção de ofender a gandula. O narrador pediu que suas falas fossem “vistas como meras divagações e comentários feitos durante a transmissão do jogo”.
Silvio alegou, ainda, que o abalo narrado por Renata não podia ser comprovado por pessoas próximas a ela e que os efeitos psicológicos referentes a sua aparência já existiam anteriormente.
Renata se defendeu apresentando laudos de médicos e de psicólogos que comprovaram os efeitos negativos do xingamento em sua vida.
A RedeTV!, por sua vez, alegou que o certame do futebol “admite condutas descontraídas, amenizando até mesmo xingamentos direcionados aos protagonistas do evento”.
Sentença mantida
Mas de nada adiantou argumentar. A desembargadora Rosane Portella, contrariando o desejo do narrador e da emissora, determinou que a sentença fosse mantida:
“Há, na Carta Magna, mecanismos que garantem a liberdade de imprensa (art. 5º, incisos IV e IX). Porém, é igualmente assegurado o direito à indenização por dano moral que possa resultar do excesso da liberdade de expressão, pois o seu art. 5º, inciso X, é claro ao determinar que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. A condenação deve possuir caráter pedagógico e compensatório. O valor estipulado na origem se mostra adequado. Sentença mantida”, disse Rosane.
Além dos valores supracitados, Silvio e RedeTV! tiveram que arcar com R$ 2,3 mil de honorários e custas processuais.
Maior arrependimento
Com quase sete décadas empunhando o microfone, Silvio Luiz revelou que sua maior mágoa durante a sua extensa carreira foi não ter passado mais tempo com os filhos. O depoimento do narrador está no documentário produzido pela RedeTV!, intitulado Especial Silvio Luiz.
“Não vi meus filhos crescerem, é uma mágoa que tenho comigo mesmo (…) Eu carrego essa culpa!”, expressou Silvio.
O especial está disponível no streaming da emissora, o RedeTV! Go, e foi lançado no último dia 13 de julho. Além do documentário, é possível assistir a toda a programação do canal no aplicativo.
A homenagem ao icônico narrador foi lançada um dia antes de seu aniversário de 89 anos, dando início às celebrações e possibilitando que ele relembrasse diversos momentos de sua carreira.
