Com a implementação do VAR (Video Assistant Referee), imaginou-se que os debates sobre arbitragem após os jogos seriam extintos. Contudo, o mau uso da tecnologia vem causando revolta em diversos clubes brasileiros.

    Arbitro Anderson Daronco
    Anderson Daronco (Cesar Greco / Palmeiras)

    Na última semana, por exemplo, o árbitro Anderson Daronco virou alvo de polêmica após se recusar a consultar o VAR em uma marcação de falta no jogo entre Palmeiras e São Paulo pela Copa do Brasil. O juiz manteve a decisão de campo, que assinalava falta e anulou o gol do tricolor, mesmo com a equipe de vídeo chamando o profissional para analisar o lance pelas filmagens.

    Na década de 1990, um cenário parecido fez com que a FPF (Federação Paulista de Futebol) optasse por árbitros estrangeiros.

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    Importação de arbitragem

    Oscar Ruiz
    Oscar Ruiz (Reprodução / Web)

    Em 1995, uma polêmica arbitragem de Oscar Roberto Godói no jogo de ida da final do Campeonato Paulista – entre Palmeiras e Corinthians – fez com que a entidade escalasse um árbitro estrangeiro para a segunda partida.

    “Escolhemos um árbitro de fora para evitar qualquer tipo de pressão. Quem vier vem pela primeira vez e não vai saber quem é o Corinthians e quem é o Palmeiras”, disse à Folha de S. Paulo em 1 de agosto de 1995 o então vice-presidente da Federação, Rubens Aprobatto Machado.

    O escolhido para a difícil tarefa de apitar um derby dessa magnitude foi o francês Remi Harrel, que comandou a partida realizada em Ribeirão Preto e que terminou com a vitória e o título do Corinthians.

    Tiro pela culatra

    Javier Castrilli
    Javier Castrilli (Reprodução / Web)

    A moda pegou e, no ano seguinte, o então presidente da FPF, Renato Duprat Filho, decidiu colocar mais árbitros estrangeiros para apitar jogos do Campeonato Paulista. Segundo os critérios da entidade, que preferia os árbitros estrangeiros por deixarem o jogo correr e não marcarem muitas faltas, os gringos seriam escalados para partidas de alto risco.

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    Nomes como o argentino Javier Castrilli, o uruguaio Júlio Mattos, o colombiano Oscar Ruiz, o alemão Markus Merk e o irlandês Dermot Gallagher participaram da competição em 1996. Ruiz, inclusive, foi o responsável por arbitrar a final daquele ano entre Palmeiras e Santos.

    Mas nem tudo são flores… Em 1998, a semifinal do estadual entre Corinthians e Portuguesa foi bastante polêmica. Em uma partida recheada de lances duvidosos, o argentino Javier Castrilli prejudicou a Lusa após marcar um pênalti inexistente. Na ocasião, o time ganhava por 2 a 1 e, com o empate, foi o Timão quem avançou para a final.

    Dois anos antes, o mesmo árbitro já havia se envolvido em uma partida polêmica entre Santa Cruz e Sport, sendo criticado por torcedores e pela imprensa.

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    O estopim

    João Martins
    João Martins (Cesar Greco / Palmeiras)

    O caso atual mais emblemático relacionado à arbitragem envolve o Palmeiras. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o atual campeão brasileiro travam uma briga rodada após rodada. A comissão técnica do alviverde, liderada por Abel Ferreira, adotou uma postura combativa desde que chegou, em outubro de 2020.

    As críticas dos portugueses não abrangem somente a arbitragem, mas gramados, calendário e viagens também são temas constantes nas entrevistas coletivas.

    O empate entre Palmeiras e Athletico Paranaense por 2 a 2 no Campeonato Brasileiro foi o estopim para diversos debates. Na oportunidade, o auxiliar técnico João Martins deu uma declaração polêmica na coletiva.

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    “É mau para o sistema o Palmeiras ganhar [o Brasileirão] dois anos seguidos.”

    A entidade prontamente respondeu, acusando o profissional de xenofobia, e levou o caso até o STJD (Supremo Tribunal de Justiça Desportiva). O Palmeiras se pronunciou através de uma nota, rebatendo as críticas da CBF.

    O clube julgou a nota como “agressiva” e listou diversos pontos questionando a CBF, porém esta não se posicionou. Após esse episódio, nenhum membro da comissão nem os atletas falaram com a imprensa.

    Outros casos

    Bruno Arleu
    Bruno Arleu de Araújo (Cesar Greco)

    No domingo (9), o jogo entre Santos e Goiás, na Vila Belmiro, acabou com o triunfo do Peixe por 4 a 3. No entanto, o destaque ficou por conta da arbitragem de Bruno Arleu de Araújo. Os dirigentes do esmeraldino ficaram revoltados após a marcação da penalidade inexistente.

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    O jogo se encaminhava para o final quando o zagueiro Lucas Halter trombou com Joaquim na área e o juiz carioca marcou a penalidade. Houve a recomendação do VAR, contudo, Bruno Arleu manteve a decisão de campo.

    Assim como o Palmeiras, o Goiás também cancelou a entrevista do treinador Armando Evangelista e jogadores após a partida. A reclamação ficou por conta do vice-presidente Harlei Menezes.

    Armando Evangelista, técnico do Goiás
    Armando Evangelista (Reprodução / Instagram)

    “Isso é um escândalo. O que aconteceu aqui hoje não tem outro nome. Mais um capítulo desastroso do futebol brasileiro. Um futebol sem credibilidade, um futebol que está esfacelado e que tem tragédias anunciadas em todas as rodadas, como a que sofremos em São Januário”, desabafou Harlei Menezes.

    Outro clube que saiu daquela rodada revoltado foi o América Mineiro. O Coelho perdeu para o Coritiba, seu adversário direto na luta contra o rebaixamento, por 3 a 1. Após a partida, a diretoria do América emitiu uma nota em protesto contra a CBF.

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    “O presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Luiz Seneme, em palestras realizadas aos clubes, já comentou que o braço de apoio em lances assim não é para resultar em pênalti, ainda mais com o toque anterior no peito do atleta”, diz parte da nota emitida dia 09 de julho de 2023.

    Será que as recentes reclamações poderão abrir as portas para árbitros estrangeiros no Campeonato Brasileiro?

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