João Saldanha foi um dos maiores nomes do jornalismo esportivo brasileiro. E também o mais polêmico – não por menos, seu apelido era João Sem Medo. Mas essa coragem lhe custou caro: às vésperas da Copa de 1990, o comentarista, que participou da cobertura de diversos mundiais, desobedeceu seu médico e viajou para Itália, onde acabou morrendo poucos dias após a final do campeonato.

    Saldanha, que nasceu em Alegrete (RS), em 1917, além de comentarista, chegou a ser técnico da Seleção Brasileira entre 1969 e 1970, classificando o time para a Copa de 1970, no México.

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    Em 1986, contratado pela Rede Manchete, comentou a Copa do México. Quatro anos depois, no entanto, a situação foi bastante diferente.

    Teimosia fatal

    O narrador Alberto Léo (1950-2016), que também era do canal dos Bloch, relatou os fatos no livro História do Jornalismo Esportivo na TV Brasileira, lançado em 2017.

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    “Saldanha estava com sérios problemas de saúde. A direção da Rede Manchete fez reuniões com os filhos do comentarista e também falou com o médico dele. Havia a dúvida se João poderia fazer uma viagem internacional e participar da cobertura de uma Copa. A data do embarque dele já tinha sido adiada duas vezes. O técnico Zagallo foi contratado para ser mais um comentarista da emissora na Copa”, relatou na publicação.

    Mas o comentarista não iria ficar de fora. Quando percebeu que estava sendo enrolado, não teve dúvidas: pegou dinheiro do bolso e, contrariando a ordem médica, comprou uma passagem para Roma. A família também foi contra a viagem – no aeroporto, ele embarcou amparado por funcionários. “Eu estou de cadeira de rodas só de sacanagem”, disse ao jornalista Sebastião Nery.

    A viagem, no entanto, foi feita com muita dificuldade. Saldanha passou mal e teve que receber oxigênio. O comandante queria descer em Recife (PE) para encaminhá-lo a um hospital, mas foi convencido a seguir o roteiro. O desembarque na capital italiana também ocorreu em cadeira de rodas.

    “No início da Copa, ele se recuperou do problema respiratório. Comentava os jogos do Centro de Imprensa, pois não tinha a menor condição de ir para os estádios”, destacou Léo no livro.

    Saldanha era acompanhado de perto por Osmar de Oliveira (1943-2014), que além de narrador da Manchete, era médico. Entre altos e baixos, na medida do possível, foi participando da cobertura da Copa.

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    Agravante

    A situação se complicou perto do final do torneio. Saldanha trabalhou na semifinal entre Itália e Argentina (foto acima) e parecia bem.

    “Quando acabou a gravação, Saldanha se despediu e combinou o mesmo esquema para o dia seguinte. Na quarta, 4 de julho, recebi um recado da Heloísa [esposa de Saldanha]: ele não estava bem e ficaria no hotel. Fiquei preocupado, pois sabia que para João faltar é que realmente o problema era sério. Aquela notícia não era um bom sinal”, explicou Léo.

    No dia seguinte, João Saldanha foi internado na UTI de um hospital de Roma. Em coma induzido, seu estado era grave.

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    Fumante inveterado, o comentarista morreu no dia 12 de julho de 1990, aos 73 anos, vítima de enfisema pulmonar, apenas quatro dias após a final da Copa, quando a Alemanha venceu a Argentina por 1 a 0.

    No dia 15 de julho do mesmo ano, para homenagear João Saldanha, a Rede Manchete exibiu um especial intitulado Meus Amigos, onde grandes companheiros do jornalista deram emocionados depoimentos.

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    Em seguida, no programa Toque de Bola, Paulo Stein leu uma mensagem de Pelé:

    “Lamento saber o falecimento do meu ex-treinador e um dos maiores jornalistas do esporte brasileiro. Saldanha sempre foi um amigo sincero, uma voz que sempre elevou o nome do futebol e do jornalismo no Brasil. Ele jamais será esquecido. Do seu amigo e admirador, Edson Arantes do Nascimento, Pelé”.

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