Na final da Copa do Mundo de 2022, Galvão Bueno se despediu das transmissões esportivas da Globo e hoje investe fortemente no YouTube, com o seu canal GB.

    Galvão Bueno

    Há muitos anos, o locutor já havia passado pela experiência de deixar o canal carioca, quando foi para uma pequena emissora do Paraná, que fazia barulho na época. Mas sua passagem por lá foi rápida e decepcionante.

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    No início dos anos 1980, antes de assinar com a Globo, Galvão trabalhou na TV Gazeta e Bandeirantes. Aos poucos, foi conquistando seu espaço e se firmou como a principal voz do esporte na televisão, batendo de frente com Luciano do Valle.

    Do Paraná para o Brasil

    Galvão Bueno
    Galvão Bueno no Imprensa na TV, na Rede OM, em 1992 (Reprodução / Web)

    No começo dos anos 1990, a Rede OM (Organizações Martinez), emissora paranaense, estava em crescimento e firmou uma parceria com a Gazeta de São Paulo. O canal investia em uma programação mambembe e muitas vezes sensacionalista.

    Em março de 1992, Galvão aceitou entrar como sócio da rede na área de esportes e deixou a Globo. Todos ficaram surpresos, pois o narrador iria perder os Jogos Olímpicos de Barcelona e a temporada de Fórmula 1, que contava com Ayrton Senna.

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    Uma sacada de mestre

    Telê Santana
    Telê Santana (Reprodução / Web)

    Logo de cara, a OM arrematou a Taça Libertadores da América de 1992, torneio que era da Globo. E teve muita sorte: o São Paulo, então comandado por Telê Santana, ganhou pela primeira vez o campeonato, em cima do Newell’s Old Boys, da Argentina, atingindo um recorde de audiência em São Paulo e derrotando a emissora carioca no Ibope.

    Uma das curiosidades reveladas no livro Fala, Galvão foi que a Globo tentou transmitir a grande final, mas o locutor não cedeu os direitos à sua antiga emissora.

    “No jogo de ida, na Argentina, já tínhamos conseguido dividir audiência com a Globo, que fez de tudo para comprar o direito de transmitir a finalíssima conosco. Pedi desculpas a Ciro José e Marcos Lázaro, mas não vendi. Eu não poderia trair meu time, os colegas que tinham topado aquele desafio comigo”, escreveu.

    Além da Libertadores, Galvão narrou o Campeonato Paranaense, que foi vencido pelo Londrina. Fora isso, não havia muitas atrações na casa além dos filmes eróticos, jornalismo policial e novelas mexicanas.

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    Crise e calote

    Galvão Bueno
    Galvão Bueno em 1993 (Luciana Whitaker / Folhapress, via UOL)

    A OM, que era do político José Carlos Martinez, passava por uma grande crise, além de se ver envolvida nos escândalos do então presidente Fernando Collor de Mello e seu testa de ferro PC Farias.

    “Desde o início a OM descumpriu todos os acordos e todas as promessas. Eles agiram de má fé todo o tempo e desonraram o compromisso. Queremos agora receber o que nos é devido”, declarou a então esposa do narrador, Lucia Ferro, ao Jornal do Brasil de 12 de março de 1993.

    Restou a Galvão sair do canal já que, além das polêmicas, não pagava em dia.

    “Fiquei na OM 11 meses e saí porque houve uma quebra de confiança. Eles não cumpriram o prometido, a dívida que contraíram comigo se avolumou e eu não sentia mais nenhuma honestidade por parte deles. Não me pagavam o que me deviam, os cheques sem fundo se acumulavam, não tinha mais nenhuma possibilidade de continuar lá”, falou Galvão ao JB.

    SBT, Band e Manchete ficaram de olho no passe do locutor, mas ele assinou com a Globo, voltando como se nunca tivesse saído.

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    “Na Globo volto a ser o narrador número 1. O que pesou mesmo foram os produtos que a Globo tem na mão e esse ano a emissora fechou eventos de primeira linha. Na Manchete seria um trabalho mais amplo, eu reestruturaria o esporte, teria que achar um novo caminho. Preferi a Globo, onde já tenho muitos amigos e confio plenamente na casa” explicou.

    Processo e acordo

    Ex-narrador Luiz Alfredo
    Ex-narrador Luiz Alfredo (Reprodução / Web)

    Galvão entrou na Justiça contra o canal, que deixou de ser OM e virou CNT (Central Nacional de Televisão), mas tudo acabou em um acordo amigável.

    “Martinez estava em grandes dificuldades financeiras, não conseguia mais pagar todas as contas e chegamos a um acordo para encerrar nossa parceria”, revelou em sua autobiografia.

    Galvão narrou as principais conquistas do Brasil no futebol, na Fórmula 1, no vôlei e na natação. Mas teve um título que ele perdeu e nunca escondeu sua tristeza por isso: a medalha de ouro do vôlei masculino em Barcelona, em 1992.

    Quem narrou na ocasião foi Luiz Alfredo, que ficou em seu lugar como locutor principal da Globo. Em compensação, ele teve a alegria de narrar o ouro do vôlei em 2004, nas Olimpíada de Atenas.

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