O Campeonato Paulista de 2004 ficou marcado por dois motivos: a final entre São Caetano e Paulista de Jundiaí, vencida pelo time do ABC, e “a quase queda” do Corinthians para a Série A2, segunda divisão do estadual.
O Timão escapou do rebaixamento na última rodada da fase de grupos graças ao atacante Grafite, jogador do rival São Paulo. O contexto do campeonato envolvia os duelos entre Corinthians X Portuguesa Santista e São Paulo X Juventus.
Para se safar, o alvinegro dependia de si mesmo, porém, acabou perdendo o jogo por 1 a 0. O destino ficou nas mãos do arquirrival. Uma simples vitória do Moleque Travesso para cima do Tricolor decretava o descenso do Timão.
Contudo, Grafite não levou isso em conta e garantiu a vitória do São Paulo, ainda no primeiro tempo, quando foi às redes duas vezes. O Juventus chegou a descontar, mas não foi suficiente; placar final: 2 a 1.
Hostilizado
Após o triunfo, ainda no Anacleto Campanella – estádio no qual a partida foi disputada –, Grafite foi hostilizado pela própria torcida por fazer os gols que livraram o Corinthians do rebaixamento.
Em entrevista ao GE, em 2010, o ex-jogador do São Paulo falou como foram os dias após salvar o rival.
“Fiz o que achei certo de acordo com os princípios e com a educação que os meus pais me deram. Não me arrependo nem um pouco. Um profissional digno e de bom caráter jamais irá fazer o contrário em seu trabalho. Eu estava ali para defender o São Paulo, clube que me pagava para jogar, ganhar jogos e marcar gols. As oportunidades apareceram e eu apenas fiz o que deveria ter sido feito. Simples”, contou Grafite.
Questionado sobre ser responsável por salvar o Corinthians, o ex-atacante foi claro.
“Ninguém cai ou conquista título na última rodada. Em campeonato de pontos corridos, cada rodada conta muito. O peso dos três pontos da última rodada é o mesmo que o da primeira. Tenho certeza de que os profissionais irão fazer o melhor pelos seus clubes”, finalizou.
Grafite só melhorou sua situação com o torcedor são-paulino no ano seguinte, em 2005, quando conquistou o Campeonato Paulista, a Libertadores e o Mundial de Clubes. Com a camisa tricolor, o ex-jogador disputou 77 jogos e fez 28 gols, entre 2004 e 2006.
Representatividade
Hoje Grafite ocupa um espaço que poucos tiveram a oportunidade. Jornalistas esportivos têm aos montes, ex-jogador como comentarista também, mas um ex-atleta negro comentando futebol é raro.
Atualmente, “Grafa”, como é carinhosamente chamado pelos companheiros de profissão, é um dos principais comentaristas do Grupo Globo.
Em longa entrevista para o GE, no dia 20 de novembro de 2022, ele comentou sobre a importância de ter pessoas plurais em todas as áreas.
“É um momento muito grande e especial. Hoje eu tenho consciência da minha representação. Eu converso muito com a Karine Alves, com o PC Vasconcellos e o Júlio Oliveira. Nós representamos o sonho de muita gente que não vai conseguir chegar onde estamos”, revelou.
