Muitos comentaristas fizeram e ainda fazem parte da história das transmissões de jogos de futebol na televisão brasileira. Amados ou odiados, jornalistas e ex-jogadores são fundamentais em uma partida e, muitas vezes, o braço direito do narrador. Sérgio Noronha fez parte desse time por cinco décadas.
Mais conhecido como Seu Nonô, ele esteve presente em diversas emissoras, como Tupi, TV Rio, TVE, Globo, Band e SporTV, além de rádios e jornais.
Noronha comentou jogos de campeonatos regionais, nacionais e internacionais, além de Copas do Mundo. Durante a Copa de 2002, que foi realizada no Japão e na Coreia do Sul (e na qual trabalhou dos estúdios no Rio de Janeiro), ele acabou cochilando ao vivo durante uma cobertura na madrugada, faixa na qual aconteceu a maioria dos jogos. O fato virou assunto na imprensa e na internet em um tempo ainda sem redes sociais fortes como as de hoje.
Mal de Alzheimer e depressão
Depois de 15 anos somados na TV Globo em três passagens (a primeira de 1975 até 1979, a segunda entre 1985 e 1986, além da última de 1999 até 2008), ele foi contratado pela Bandeirantes em 2009 e se tornou comentarista dos jogos do Campeonato Carioca e dos clubes do Rio no Brasileirão e nas Copas do Brasil e Sul-Americana. No ano seguinte, saiu e deu lugar a Edmundo.
O último trabalho do jornalista foi em 2011 no Premiere, canal pay-per-view do Grupo Globo (ao qual, além da emissora aberta, também esteve vinculado durante muitos anos pela Rádio Globo e pelo SporTV – sem contar a Copa do Mundo de 1982, que fez na TV Globo enquanto cedido pela TVE, que retransmitiu aqueles jogos no Rio a exemplo do que fez a Cultura em São Paulo). A demissão da emissora carioca abalou a sua rotina e sua saúde.
Em 2015, Sérgio Noronha começava a apresentar sinais do Mal de Alzheimer, além de uma retenção de líquido na bexiga, que lhe causou uma embolia pulmonar e uma internação de dois meses. Segundo Marcia Miranda, amigo da jornalista, a saída da Globo abalou sua saúde metal.
“Quando ele foi mandado embora da Globo, foi caindo, porque ele não se conformava com aquilo. Ele me disse: ‘Pô, Marcinha, vê se pode um negócio desse, me tirar para colocar estes rapazotes novos que trabalham de tênis e calça jeans. Eu ia de terno'”, relatou a amiga de Noronha. “Enfim, ele ficou muito triste com isso. Então, essa demissão da Globo fez ele cair, porque quem está na Globo é visto”, revelou Marcia ao UOL.
Desempregado, sozinho e sem dinheiro, ele buscou a ajuda de um grande amigo e colega de transmissões: Arnaldo Cezar Coelho.
“Um dia me procuraram: ‘Ó, Arnaldo, aconteceu isso e isso, acabou o dinheiro’. Eu sou muito amigo dele, ele está com Alzheimer e o Sergio me conhecia na praia quando eu comecei. Aí eu falei com o Stepan Nercessian, presidente do Retiro dos Artistas, para ele conhecer o Noronha. Pegamos uma casa numa vila lá. Eu reformei a casa toda, com ar-condicionado, geladeira. Aí todo mês eu ajudo, porque ele não tem família para ajudar”, revelou o ex-árbitro ao UOL.
Encontros e despedidas
A ida do comentarista foi uma chance de abrir as portas para outros profissionais no Retiro, que sempre recebeu atores e atrizes.
“A iniciativa foi do Arnaldo. Há algum tempo a gente está abrindo a possibilidade de não só receber atores, tanto é que tem gente da música, das artes plásticas. Falei para o Arnaldo: estou à disposição. O Sergio fazia parte da história da crônica esportiva, um jornalista por quem sempre tive uma relação cordial, sou admirador. Foi um prazer recebê-lo”, disse Stepan Nercessian ao UOL.
Em 2018, ele passou a morar no Retiro e nunca foi esquecido pelos amigos, uma vez que sempre recebia visitas e participava de almoços.
Com o passar do tempo, infelizmente sua saúde foi piorando e ele permanecia mais em casa, sob os cuidados de uma enfermeira. Em 2020, Noronha ficou internado durante sete dias depois de contrair uma pneumonia e morreu em 24 de janeiro, vítima de uma parada cardíaca.
“A gente tentava sempre manter o Sérgio bem e ativo. No fim do ano passado, fiz dois grandes almoços no Clube dos Marimbás. Um com amigos próximos, jornalistas da época dele, e outro com ex-namorada e esposas. Foi muito bacana. Quase uma despedida. Pena…”, disse Arnaldo ao UOL.
Em sua última entrevista, Sérgio Noronha declarou que Arnaldo era “um bom amigo, amigo mesmo” e que sentia muita falta da televisão. Hoje, são os amigos e admiradores que sentem falta do Seu Nonô.