Imagine o futebol brasileiro sem o Rei. Que o talento único de Pelé, seus gols antológicos e sua brilhante contribuição para o Brasil conquistar três das cinco Copas do Mundo não tivessem existido. Difícil, não é? Mas isso quase se tornou realidade antes da Copa de 1958.

    Garrincha e Pelé

    E tudo graças a um psicólogo, João Carvalhaes.

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    Pelé infantil

    Pelé jovem

    O psicólogo foi contratado pela Seleção Brasileira para fazer uma análise dos jogadores, a fim de avaliar se eles estavam aptos para enfrentar o peso de uma Copa do Mundo. Só que, diferente dos colegas de profissão do Doutor de hoje em dia, que apoiam o desempenho e a saúde mental dos atletas, na época Carvalhaes exercia influência direta na escalação dos jogadores.

    O método aplicado pelo profissional era conhecido como teste Alfa do Exército, adaptado de um programa americano que determinava a capacidade intelectual dos soldados da Primeira Guerra Mundial. A análise durava 50 minutos e determinava o vocabulário e a capacidade aritmética dos jogadores, a fim de atribuir uma “avaliação de inteligência”.

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    A pontuação máxima do teste aplicado, que significava aptidão total, era de 123 pontos. Pelé fez apenas 68. De acordo com o psicólogo, o jogador, na época jovem, com apenas 17 anos, deveria ser cortado do time.

    “Pelé é obviamente infantil. Falta-lhe o necessário espírito de luta. É jovem demais para sentir as agressões e reagir com a força adequada. […] Não acho aconselhável seu aproveitamento”.

    Graças aos deuses do futebol, as orientações do profissional sobre o perfil do jogador não foram aceitas.

    Garrincha e a mala roubada

    Garricha

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    Se o desempenho de Pelé foi “preocupante”, o de Garricha foi pior ainda. O ponta-direita fez apenas 38 pontos na avaliação, resultado que foi apresentado por Carvalhaes à comissão técnica da CBD. Só que os resultados vazaram para a imprensa e o caos se instaurou.

    Garrincha já era badalado, o astro do time, e o rumor de que ele não participaria da Copa do Mundo deixou o psicólogo irritado. Ele alegou, em carta à Paulo Machado de Carvalho, que os documentos haviam sido roubados de sua bagagem.

    O impacto negativo gerado prejudicou seu trabalho nos bastidores, mas logo tudo voltou ao normal com a confirmação de Garrincha na Copa. As especulações da imprensa acabaram e Carvalhaes viajou para a Suécia com o restante da comissão técnica.

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    Nasceu o Rei

    Pelé, Gilmar e Didi Copa 1958

    Pelé brilhou na Copa de 1958. Em quatro partidas, ele marcou seis gols – metade deles na semifinal. O atleta mostrou, ainda, ao marcar dois tentos na final, que sabia lidar com a pressão. Resultado: o Brasil conquistou o primeiro e tão almejado título mundial.

    A história comprovou que o psicólogo estava errado, pelo menos nessa questão, e o Rei nasceu para o mundo. Com três taças na galeria, Pelé é o único tricampeão mundial (68/62/70) e o maior artilheiro da história do futebol.

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    O revolucionário

    João Carvalhaes, psicólogo da Seleção Brasileira em 1958

    Nascido no dia 15 de agosto de 1917, na cidade de Santa Rita do Passa Quatro (SP), João Carvalhaes (foto acima) iniciou sua formação no curso de Bacharelado Em Ciências Políticas pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo em 1940.

    Nos anos seguintes, trabalhou na Light & Power executando trabalhos relativos à seleção de pessoal com a aplicação de testes e publicou diversos trabalhos voltados à área de recrutamento, seleção e treinamento de pessoal.

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    Com um currículo de respeito, João foi sócio efetivo e segundo secretário da Sociedade de Psicologia de São Paulo, cargo que renunciou em 1952. Entre 1954 e 1959, trabalhou na Federação Paulista de Futebol, realizando atividades relacionadas à seleção psicotécnica de candidatos à Escola de Árbitros e preparação psicológica dos mesmos.

    Faleceu em 1976, aos 58 anos de idade.

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