Ele é reconhecido por sua atuação como centroavante do Benfica, de Portugal, mas Isaías Soares, 59, tem um feito muito maior que seus 178 jogos e 71 gols marcados com a camisa dos Encarnados.
O Profeta Selvagem foi o primeiro brasileiro a jogar na Premier League, a principal liga inglesa de futebol, atuando pelo Coventry City. Diferentemente de Mirandinha, como já falamos aqui, que jogou na liga quando ela ainda não tinha esse nome, Isaías jogou na competição já no formato atual.
Ele defendeu o time inglês entre 1995 e 1997, atuando em apenas 12 jogos, com modestos dois gols marcados. Talvez esta atuação simplória tenha feito o pioneirismo de Isaías ser esquecido.
“Me ligou uma revista um tempo desses para falar comigo sobre a Premier League. Eles achavam que o primeiro jogador brasileiro a disputar (a Premier League) foi o Juninho Paulista, mas eles esqueceram de mim. Fui o primeiro a atuar. Não sei se eles não me consideraram por causa do meu passaporte português, né?”, questionou Isaías, em entrevista ao portal GE, em 2015. À época, Juninho Paulista jogava no Midllesbrough e só apareceu na liga após a 12ª rodada.
No Benfica
O capixaba de Linhares (ES) tinha um chute potente, sendo conhecido por Pé-canhão em Portugal. Graças a este torpedo, o ex-centroavante conquistou dois Campeonatos Portugueses (1990-1991 e 1993-1994) e uma Taça Portugal. É reconhecido, até hoje, como um dos grandes jogadores do time luso.
“Ele (Isaías) marcava mesmo, tinha muita força, muita habilidade. O cara foi o destaque no Boavista, no Benfica… Sempre foi destaque. É um cara do bem, grande profissional que tem muita história para contar. Nós ali atrás falávamos isso mesmo: a gente segura aqui, e você decide aí”, relembra Ricardo Gomes, companheiro de Isaías no Benfica em 90/91, na mesma entrevista ao GE.
Premier League atual
Após trágicos incidentes no início da década de 80, os grandes clubes ingleses perceberam que precisavam, urgentemente, de mudanças e de um novo torneio, que além de trazer a alegria aos torcedores, seria rentável para os clubes.
Em 1992, o Big Five (os cinco maiores clubes ingleses – Manchester United, Liverpool, Arsenal, Tottenham e Everton) criou uma liga com 20 times, formando a Premier League.
Assim, começou a época de ouro do futebol inglês. Sem a ameaça dos hooligans, com muito dinheiro em jogo, a reestruturação e fortalecimento dos times, a Premier League se tornou um negócio extraordinariamente rentável.
As equipes se tornaram verdadeiras constelações, com times repletos de jogadores valiosíssimos, o que atraiu investidores multimilionários. Hoje, a liga é a competição mais rentável e bilionária do futebol mundial, com transmissão para mais de 190 países.
Atualmente, a Premier League conta com os brasileiros Casemiro, Willian, Gabriel Jesus, Alisson, Fred, dentre outros.
Os primórdios
Isaías foi descoberto nas categorias de base do Fluminense, no início da década de 80.
“Cheguei no Fluminense e me disseram que eu ia começar a treinar já no profissional, porque o clube estava montando a equipe para o Carioca de 83. Aí falaram que tinha um jogo na semana e era o meu teste. Aí chegamos na cidade, muita festa, foguetório na cidade. No jogo, entrei no segundo tempo como ponta direita, dei dois passes e só sei que ganhamos de 3 a 1. Acabou o jogo, o supervisor me chamou e disse que tinha gostado. Aí continuei no profissional, viajei com eles, mas como os juniores estavam precisando, eu desci para o júnior”, conta Isaías.
O jogador ficou nos júniores por um ano, onde o Flu acabou ganhando tudo. Na época, Isaías tinha 19 anos e só podia jogar por pouco tempo na categoria de base.
“O Flu não demonstrou interesse, até porque tinha um elenco campeão Carioca, do Brasileiro”, relembra, todo faceiro, o jogador.
Antes de ir para o velho continente, Isaías passou pelo Friburguense e Cabofriense, ambos cariocas. Na terra dos patrícios, atuou no Ave e Boavista, antes do estrondoso sucesso no Benfica. Depois de sua rápida passagem pelo Conventry City, voltou para Portugal, jogando pelo Campomaiorense, e no Brasil, atuou mais uma vez pelo Cabofriense, findando sua carreira no futebol.
Gigante esquecido…
Mesmo com tamanho brilhantismo, Isaías é hoje uma simples lembrança na memória dos mais bem informados e adoradores de futebol. A grande massa nem sequer sabe quem foi o jogador.
Em 2016, passando por dificuldades financeiras, ele tentou se reerguer em Portugal, atuando como ajudante no restaurante de um amigo, na cidade de Pombos, no interior do país.
“Ele é humilde, até demais. Faz questão de ajudar no que for preciso. Está na copa, lava a louça, descasca batatas, se necessário. Os clientes ficam surpreendidos quando o veem e pedem para tirar fotografias. Ainda hoje, é um rei por onde passa. A marca do Pé-canhão ficou”, alegra-se Silvio Ramos, amigo e proprietário do restaurante O Pote em entrevista ao portal Diário de Notícias.
