Um dos primeiros astros da bola, Heleno de Freitas, atacante com passagens por Vasco da Gama, Boca Juniors e Botafogo, teve um final de carreira – e de vida – degradante. Heleno não era conhecido apenas pela facilidade de balançar as redes, mas também por ser um bon vivant.
O craque atingiu seu auge jogando pelo Botafogo e, com o sucesso, a fama e o dinheiro potencializaram tudo aquilo que Heleno era: brigão, boêmio, goleador e egocêntrico.
Grande nome da Estrela Solitária, o ex-jogador contraiu sífilis ainda no início de sua vida sexual.
Meu companheiro é adversário também
No RG consta que Heleno nasceu na cidade de São João Nepomuceno, em Minas Gerais, mas o coração dele pertencia ao Rio de Janeiro. Ele se mudou para a Cidade Maravilhosa ainda na juventude, após a morte do pai.
A disciplina não fazia parte da vida de Heleno que, por vezes, se metia em confusão com os próprios colegas de time e era constantemente expulso dos jogos. O atleta era aquilo que chamamos de “mala”.
Contudo, essas atitudes do ex-atacante eram um reflexo da sua personalidade e do que a doença fazia com seu corpo. A sífilis afetava o sistema nervoso do atleta, tornando o convívio com ele cada vez mais complexo.
Doença silenciosa
Graças ao avanço da ciência, o tratamento da sífilis hoje é muito mais tranquilo se comparado às décadas de 40 e 50.
Na época, a sífilis era conhecida como uma doença silenciosa, com muitos sintomas. Perda de peso, fortes dores musculares, pensamentos e falas confusas e discurso sem nexo com a realidade – o que foi atestado por um de seus companheiros, o goleiro Dalton.
“Ele falava para gente que namorava as mulheres mais bonitas. Contava que teve caso com a Eva Perón, quando estava na Argentina”, revelou o ex-arqueiro do Botafogo.
Em 1956, um encontro gigante aconteceu: Garrincha e Heleno, mas infelizmente fora dos gramados. O elenco do time carioca foi até à Casa de Saúde em São Sebastião visitar o craque.
Já no ano seguinte, sua saúde foi se deteriorando rapidamente e a perda de peso e problemas de saúde bucal eram visíveis.
O jornalista Marcos Eduardo Neves publicou o livro “Nunca Houve um Homem como Heleno”, em 2006. Em uma passagem da publicação, Neves comenta sobre como a doença afetou Heleno.
“Em seus últimos dias, Heleno esteve mudo e afásico. Tudo era melancolia, silêncio, tristeza. Agonizava. Suas unhas tornavam-se roxas, em sinal preventivo de que a morte se aproximava. A linguagem do olhar, a mais sincera das linguagens, por seu estado profundo e humano, revela sua dor, sendo todos, ao seu lado, impotentes para reanimá-lo”, testemunha Neves.
Após quatro anos de tratamento, em um domingo de manhã, um enfermeiro foi levar café até o quarto de Heleno e o encontrou morto.
Heleno de Freitas nasceu no dia 12 de fevereiro de 1920 e faleceu em 08 de novembro de 1959.