Em 2010, Salvador Cabañas Ortega vivenciou o momento mais trágico de sua carreira, ou melhor, da vida. No auge de sua forma física e em ano de Copa do Mundo, o jogador paraguaio levou um tiro na cabeça em uma boate na Cidade do México.
Após uma briga nos banheiros da casa noturna no dia 25 de janeiro, José Jorge Balderas Garza disparou contra o atleta, que ficou com a bala alojada no pescoço. Na época, Cabañas tinha 29 anos e era a principal estrela do América do México.
O atacante ficou internado durante três meses e, para surpresa de muitos, sobreviveu ao trauma.
Alvo do Manchester United
Salvador Cabañas ficou conhecido do torcedor brasileiro após marcar um hat-trick na vitória do América sobre o Flamengo por 3 a 0, em 2008. O jogo, disputado no Maracanã e válido pelas oitavas da Libertadores, eliminou o rubro-negro, que havia vencido a primeira partida por 4 a 2. Posteriormente, o time mexicano também eliminou o Santos.
Em 2010, o atacante foi um dos responsáveis por ajudar o Paraguai na classificação para a Copa do Mundo da África do Sul e, segundo o próprio jogador, ele estava prestes a assinar por um grande clube quando foi baleado.
Em entrevista ao canal paraguaio Telefuturo, em 2018, Cabañas disse que o América queria mantê-lo no plantel, mas que ele já estava acertado com o poderoso Manchester United.
“Eu havia assinado um pré-contrato de 1,3 milhão de libras (cerca de R$7 milhões na cotação atual) por uma transferência para a Europa. Eles me disseram que o meu destino seria o Manchester United…O América dobrou o meu salário e me deu um apartamento em Acapulco e outro em Cancún para tentar me manter no clube”, afirmou na entrevista.
Crime e recuperação
Muitas suspeitas foram levantadas como causa do crime contra o jogador paraguaio. A primeira causa seria um suposto assalto, o que foi descartado, sendo a hipótese mais provável um desafeto com um torcedor de um time adversário. Também havia sido levantada a hipótese de que o crime teria sido cometido por um torcedor do próprio América, que estaria revoltado por Cabañas ter perdido um pênalti que tirou a equipe da Libertadores de 2010.
Após a delicada cirurgia, que aconteceu no hospital Ángeles del Pedregal, o jogador seguiu em estado grave, porém estável. De acordo com o médico Ernesto Martínez, o atacante sofreu um traumatismo craniano e pedaços de ossos foram retirados do seu crânio. A bala não foi removida para não causar mais danos ao atleta.
Aos poucos, Cabañas foi se recuperando, mas, em contrapartida, sua família foi passando por problemas financeiros. O jogador deixou de receber do América e nem mesmo a Federação Paraguaia de Futebol lhe prestou assistência.
“É triste. Eu era um ídolo no Paraguai, mas ninguém da Federação ou da minha equipe se apresentou para me ajudar. As pessoas comuns se lembram de mim, eu as respeito muito e é isso que faz você continuar. Isso é a vida, faz parte da carreira de um jogador”, afirmou o jogador ao Telefuturo.
Em 2011, Cabañas voltou a treinar com bola. Além de se por em forma nas dependências do Libertad, clube de sua cidade natal, os treinamentos serviam para contribuir com a evolução do seu quadro psicológico, mas sem previsão de voltar a jogar profissionalmente.
No dia 10 de agosto de 2011, o jogador se despediu da seleção de seu país. Um amistoso realizado no estádio Azteca, no México, entre Paraguai e América, selou a trajetória do jogador em um 0 a 0 onde o atacante jogou apenas alguns minutos de cada lado.
Carreira e Tanabi
O jogador, nascido em Assunção no dia 5 de agosto de 1980, iniciou sua carreira no 12 de Octubre, do Paraguai, em 1998. Posteriormente, passou por clubes como Club Guaraní, Audax Italiano, Jaguares de Chiapas e UANL Tigres.
Em 2006, foi vendido pelo Jaguares, clube que detinha o seu passe e onde se destacou com 61 gols em 103 jogos, para o América do México, iniciando assim outra trajetória de sucesso na carreira.
Após o incidente e a recuperação, Cabañas foi anunciado pelo clube que o lançou no mercado, o 12 de Octubre, no dia 19 de janeiro de 2012. Em 2014, o jogador foi anunciado pelo Tanabi, clube que disputava a Segunda Divisão do Campeonato Paulista.
O atacante, que em tempos áureos ganhava cerca de 210 mil dólares por mês, iria ganhar modestos R$ 6 mil mensais no clube paulista.
“É muito legal pra cidade, vou tratá-lo de igual para igual, porque eu falo espanhol por ter morado no México e jogado com o Muricy Ramalho”, disse o técnico José Ricardo, o Picolé, em entrevista à ESPN.
Não rolou
Após ser anunciado com total alarido, desfile pela cidade e grande cobertura jornalística, Cabañas jogou apenas uma partida pelo clube, um amistoso. Além do interesse do Grêmio Barueri, que queria tirá-lo do Tanabi antes mesmo da estreia, faltavam documentos para sua regularização no clube. O jogador foi ao Paraguai buscar e nunca mais voltou.
De acordo com o presidente do Tanabi, Irineu Alves Ferreira Filho, ficava difícil saber o que estava acontecendo com o jogador, pois parecia que ele não estava muito a fim de jogar futebol. Além disso, o clube teve que arcar com problemas em relação à venda de camisas.
“Faltou um pouco de interesse do próprio jogador. (A contratação) não foi para enganar ninguém. Não deu para inscrever porque ele não veio com o documento. Eu não estou tendo contato com ele como eu tenho com você, assim, de conversar mesmo. É difícil saber o que está acontecendo, se ele só queria aparecer”, disse em entrevista ao Terra.
No Paraguai, em uma entrevista no rádio, o jogador declarou que não voltaria ao Brasil e que, assim, encerrava sua carreira.
“Não tenho mais condições de jogar futebol. Estou deixando os campos por não conseguir mais acompanhar o ritmo dos outros jogadores”, disse o paraguaio.
Posteriormente, Cabañas assinou com o Independiente Fútbol Club, de Pedro Juan Caballero, mas jogou uma partida e depois resolveu se dedicar à uma escola de futebol.