Tragédia que interrompeu carreira de craque foi parar na Justiça

Acidente Dener

Dener Augusto de Sousa nasceu em São Paulo em 2 de abril de 1971. Ele foi um meia-atacante rápido e habilidoso, considerado um dos mais promissores jogadores de sua geração. Após sua trágica morte, em abril de 1994, sua família precisou entrar na Justiça para receber o que lhe era de direito.

Carro de Dener após acidente (Reprodução / Globo)

De origem humilde, Dener perdeu o pai muito cedo, aos oito anos, e precisou começar a trabalhar, assim como seus irmãos, para ajudar a mãe.

Por isso, apesar de ter entrado para as categorias de base da Portuguesa aos 11 anos, precisou sair aos 15 para ajudar nas despesas de casa. Quando adolescente, estudava, trabalhava e ainda arrumava tempo para jogar futebol de salão defendendo o Colégio Bilac, pelo qual foi campeão de torneios intercolegiais.

Volta à Lusa

Aos 17 anos, o jovem atleta voltou às categorias de base da Lusa e rapidamente passou a fazer parte da equipe profissional, chamando a atenção de diversos clubes. Durante três anos, Dener treinava entre os profissionais e ainda jogava pelo juniores, sendo assim que levou os rubro-verdes ao primeiro título do clube na Copa São Paulo de 1991, da qual foi eleito o melhor jogador. Na final, marcou uma vez (a sétima no torneio) na goleada por 4 x 0 sobre o Grêmio.

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Grêmio, para o qual foi emprestado em 1993 e no qual venceria aquele que seria seu único campeonato como profissional: o Gaúcho, no qual marcaria quatro gols. O empréstimo durou três meses e Dener retornou à Portuguesa para disputar o Campeonato Brasileiro. A equipe paulista terminou em 9º lugar na classificação geral, sendo eliminada na repescagem da primeira fase.

Vasco e Seleção Brasileira

No ano seguinte foi emprestado ao Vasco, onde teve belas atuações e sagrou-se campeão da Taça Guanabara (primeiro turno do Campeonato Carioca). Ele alinhava sua transferência para o Stuttgart, da Alemanha, após sua passagem por São Januário.

A jovem promessa chegou a jogar duas vezes na Seleção Brasileira treinada por Paulo Roberto Falcão em 1993. A primeira foi quando ainda estava na Lusa, num empate por 3 x 3 com a Argentina em 27 de março, em Buenos Aires. Estreou no lugar do meia Luís Henrique e, mesmo com poucos minutos em campo, foi sua a jogada que culminaria no terceiro gol brasileiro. A outra foi em 28 de maio, em Uberlândia, quando já estava emprestado ao Grêmio. Ele substituiu Neto nos 3 x 0 diante da Bulgária.

Tragédia

Em 19 de abril de 1994, pouco mais de duas semanas após o fim da Taça Guanabara que havia conquistado pelo Vasco, o último grande craque da história da Portuguesa morreu precocemente no Rio de Janeiro, aos 23 anos. Foi em um acidente de carro, a 60 quilômetros por hora, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ele estava dormindo no banco do carona de seu carro, quando o motorista perdeu o controle e bateu em uma árvore. Dener foi estrangulado pelo cinto de segurança.

O jovem deixou a mulher e três filhos, Dêniz Henrique, Dener Matheus e Felipe Augusto.

Mágoa

Após a morte do jogador, a família precisou entrar na Justiça para receber as indenizações que lhes cabia. O acerto com o Vasco da Gama saiu mais de dez anos após o acidente, em 2007. Já a quitação do espólio do atleta veio a acontecer de fato em 2015.

Além da pendência jurídica com o Vasco durante a década de 1990, a Portuguesa arcou com a incumbência de ceder à família um pacote de benefícios que incluía salário mínimo, cesta básica e auxílio de transporte.

“Tenho um carinho com os clubes que ele passou, nem tanto com a Portuguesa. Minha mãe sofreu, teve muita decepção com aquele clube. Com o Vasco também, que muitas vezes atrasou os pagamentos”, relatou Dener Matheus, terceiro filho do jogador, em entrevista ao UOL.

“Por muitas vezes ela teve que ir lá (Portuguesa) implorar, muitas vezes demoravam meses para dar. E quando davam não davam certo. Tenho um pouco de mágoa”, acrescentou o rapaz.

Amigos

Além disso, a família contou com a ajuda de amigos que os visitavam com frequência, como Edinho, goleiro e filho de Pelé, e Tico, atacante veloz e voluntarioso que também despontou junto dele na Lusa campeã da Copa São Paulo de 1991. Após a partida de seu melhor amigo, se esforçou para suprir algumas das incumbências paternas.

“Como se fosse meu pai, um cara para quem eu conto segredos meus. Amo de coração”, relatou Dêniz ao UOL. “É muito presente na nossa vida, um pai mesmo, que dá conselhos”, endossou Felipe.

Os três herdeiros do craque tentaram a carreira no futebol, porém, houve alguns entraves e hoje eles colocam a paixão pela bola em prática somente em partidas na várzea.

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