Ele nasceu Vágner de Araújo Antunes, no Rio de Janeiro, em dezembro de 1954, mas ficou conhecido no mundo futebolístico como o zagueiro Vágner Bacharel. Natural de Madureira, onde iniciou sua carreira no clube local, tinha uma fala articulada e boa postura com a imprensa, o que lhe rendeu a alcunha.
Dono de um drible ímpar, o zagueiro fez história passando por clubes como Joinville, Internacional e Cruzeiro. Com uma boa experiência e seu talento, Bacharel chegou ao Palmeiras em 1983, num dos piores momentos já vividos pelo clube. Conhecida como a malfadada “década perdida”, o zagueiro chegou com uma torcida desacreditada, que exigia fortemente uma mudança no cenário e o empenho de seus jogadores.
Mas com a leveza e a elegância que tinha em campo, logo o zagueiro conquistou seu lugar como titular e o coração da torcida. Sua dupla com o também zagueiro Luís Pereira é uma das mais lembradas, não só na história do clube, mas no futebol brasileiro.
Liderança de grupo e novos voos
Em 1986, com a saída de seu partner, Bacharel assumiu a liderança da equipe do Palmeiras, ficando no clube até agosto de 1987, quando disputou sua última partida contra o rival São Paulo. No Alviverde, Vágner Bacharel esteve em cinco temporadas, conquistou 102 vitórias (marcando 22 gols), 105 empates e sofreu 54 derrotas.
Depois do Palmeiras, foi para o Botafogo, onde teve uma trajetória “morna” e sem nenhum destaque. Assim, Bacharel ficou por uma curta temporada no clube carioca, de onde seguiu para o Guarani, em 1988, e levou o clube à final do Paulistão contra o Corinthians. Na ocasião, com um gol de Viola na prorrogação, seu time perdeu mais um título e ele, o cargo.
Bacharel seguiu para o Fluminense e Vila Nova e, em 1989, chegou ao Paraná Clube, um time recém-montado, cheio de desafios, assim como a carreira do atleta. Mas o reconhecimento veio e o zagueiro se tornou capitão do time. Bacharel estava empenhado em tornar o Paraná um grande time, a começar pelo Campeonato Paranaense de 1990.
Choque de cabeças fatal
Numa partida disputada com o Campo Mourão pelo dito Campeonato, Bacharel se preparava para cabecear uma cobrança de falta quando o lateral direito Charuto, do time adversário, antecipou-se e também subiu para cabecear a bola. Era o início do fim.
Com o forte choque entre cabeças, os jogadores caíram no chão, mas o capitão Bacharel aparentava estar desmaiado. Quando voltou a si, o zagueiro reclamava de muita dor, aparentemente na coluna. As condições precárias e o diagnóstico raso (comuns na época), fizeram o capitão sair de campo com um colete cervical, direto para o hospital.
“A pancada foi bem forte. Lembro que levantou um caroço, um galo grande na minha testa. Fiquei com o olho esquerdo embaçado, sem enxergar, por uns 20 minutos e depois voltou ao normal. Mas não saí da partida. Naquele tempo, eram só duas substituições e nosso time já tinha feito”, explica Charuto, em entrevista ao UOL Esporte.
Vágner seguiu para o hospital Evangélico de Curitiba, acompanhado do médico do clube e seu presidente. Todo o atendimento foi prestado para um possível problema na coluna e não na cabeça.
“Eu lembro perfeitamente: pegaram essa radiografia e colocaram contra a luz. ‘Ó, não tem nada’. Com a presença dos médicos todos”, lembra Aramís Tissot, presidente do Paraná Clube, na época, na mesma entrevista.
Como não foi diagnosticado nenhum problema na coluna ou no pescoço, dois dias depois Bacharel teve alta do hospital, mesmo reclamando de fortes dores de cabeça.
Negligência médica decretou
E é aí que o seu fim foi decretado. Em nenhum momento os médicos avaliaram a cabeça do jogador e era justamente ali que estava a lesão. Devido ao impacto, Bacharel teve uma fratura de 180 mm no osso parieto-occipital esquerdo do crânio (localizado na parte posterior da cabeça), ou seja, um traumatismo craniano – que ninguém percebeu.
Mesmo com dor, o jogador teve alta e foi para casa e, no mesmo dia, horas depois, convulsionou duas vezes, para só então voltar ao hospital.
“A Renata (esposa do jogador) já tinha chamado o médico por causa da primeira convulsão, mas ele estava bem. A gente estava conversando. Quando o médico foi sair do apartamento, deu uma convulsão de novo. Foi aí que chamaram a ambulância e o Vágner voltou para o hospital. Depois desse dia, não voltou mais pra casa”, lembra Pedrinho Maradona, um dos melhores amigos de Bacharel (no Paraná Clube) e vizinho do zagueiro, que presenciou a segunda convulsão.
O diagnostico tardio da fratura, a falta de tratamento e a confusão médica tiraram a vida de Bacharel. Ele faleceu em Curitiba, em 20 de abril de 1990. O UOL Esporte teve acesso aos laudos e o óbito foi causado por edema cerebral, resultante da fratura.
O jogador, na época com 35 anos, deixou esposa e dois filhos.