Tragédia acabou com a carreira de antecessor de Galvão na Globo

Osmar Santos

Osmar Santos (Reprodução / Web)

Sua história começou no interior de São Paulo, mas sua fama correu o mundo. Osmar Santos, 74, foi sem dúvida um dos maiores locutores esportivos do Brasil.

Osmar Santos (Reprodução / Web)

Nascido em Osvaldo Cruz (SP), ainda criança se mudou para Marília (SP), sua cidade do coração. Torcedor fanático do MAC (Marília Atlético Clube), o qual chama de “Marilinha”, começou sua carreira nas rádios da cidade, quando o impagável radinho de pilha era o grande companheiro dos amantes do futebol.

Com Osmar Santos – criativo, eloquente e superlativo -, a locução ganhava vida. Realmente o ouvinte se sentia no estádio.

Carreira por paixão

A 570 km de distância de sua cidade natal, na capital paulista, começava o chão de estrela de Osmar Santos. Em São Paulo, ele fez três faculdades: Educação Física, Administração Pública e Direito, mas o futebol e o rádio eram suas grandes paixões.

Entre 1972 e 1976, esteve à frente do esporte na Rádio Jovem Pan.  Em 1977, foi para a Rádio Globo e logo já estava na TV Globo, apresentando, além de atrações e boletins esportivos, programas de variedade, como o Guerra dos Sexos, em 1984.

Osmar foi o primeiro locutor da emissora na Copa de 1986, tendo como segundo Galvão Bueno e terceiro, Luis Alfredo. Entre 1988 e 1991, esteve na Rádio Record, mas logo voltou para o canal dos Marinho, onde permaneceu até 1994. Vale ressaltar que, neste ínterim, ele foi o locutor da Copa de 1990 na extinta TV Manchete.

“Pimba na gorduchinha”

Osmar Santos Globo (Reprodução / Web)

Osmar foi intitulado o Locutor das Diretas (1984), pois aproveitando sua influência, deu voz à campanha para eleições diretas e o fim da ditadura militar, que durou 20 anos no Brasil. Osmar foi, inclusive, convidado para entrar para a política, mas recusou.

Ele era o técnico de um time de estrelas no rádio. Ao seu lado, estiveram seus irmãos Oscar Ulisses (hoje, CBN) e Odinei Edson (hoje, Band News FM), Fausto Silva, Roberto Carmona, Juarez Soares, dentre outros.

Osmar inspirava todo mundo. Ele é dono dos mais populares jargões futebolísticos, como “Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”, “Parou por quê? Por quê parou?”, “Tiro-lirolá, Tiro-lirolí, e que GOOOOOOOOOOOOL!!!”.

Nome de peso na antiga Rádio Excelsior (hoje CBN), Osmar Santos apresentava o programa Balancê, de grande audiência, em meados da década de 80. Aliás, foi na voz do locutor, durante o programa Balancê, que a morte de Elis Regina foi noticiada, em primeira mão.

Morre um locutor e nasce um pintor

Osmar Santos atuando como pintor (Reprodução / Web)

Mas a brilhante trajetória do “Pai da Matéria” foi tragicamente interrompida. Às vésperas do Natal de 1994, numa noite chuvosa, Osmar trafegava pela BR-153 (Transbrasiliana), entre Marília e Birigui. Um caminhão dirigido por um motorista bêbado colidiu com sua Mercedez na cidade de Getulina (a 473 km da capital).

O caminhoneiro fugiu e Osmar teve o lado esquerdo do crânio afundado. Os primeiros socorros foram prestados na Santa Casa de Lins (SP) e ele logo foi transferido para o hospital Albert Stein, em São Paulo, onde passou por cirurgia.

Superando a morte, o locutor ficou com sequelas irreversíveis na fala e locomoção, mesmo com muitas sessões de fisioterapia e fonoaudiologia. Persistente e amante da vida, Osmar pronuncia, em torno, de 100 palavras, no total, com grande dificuldade. Algo inimaginável para o locutor que, nos áureos tempos, pronunciava 100 palavras por minuto, sem engasgar-se. Hoje, as palavras são soltas. O locutor não consegue formar uma frase completa, mas vai, de palavra em palavra, expondo suas ideias e lembranças.

Apesar de seu lado direito paralisado, Osmar utiliza a mão esquerda para pintar quadros que, inclusive, já foram expostos em inúmeros eventos. A arte veio como consequência da terapia, que começou logo após o acidente.

Mas as limitações não foram suficientes para parar Osmar Santos. Amparado por uma equipe, ele vai a óperas, shows, cinema, mesmo sem companhia. Tem total autonomia e autossuficiência para viver e aproveitar a vida que lhe foi dada mais uma vez.

Homenagens

Osmar Santos (Reprodução / Web)

Osmar é reverenciado por onde passa. Em 2015, teve uma bola batizada de Gorduchinha (parte do jargão largamente usado pelo locutor) em sua homenagem. A bola tinha até selo de aprovação da FIFA e foi utilizada no Campeonato Paulista daquele ano.

Em 2017, o Centro de Imprensa do Allianz Parque recebeu seu nome, em homenagem a grande contribuição de Osmar não só para o rádio, mas também para o jornalismo esportivo.

Em dezembro último, o MAC prestou uma homenagem ao seu torcedor ilustre, com toda a equipe presente e uma camisa comemorativa aos 80 anos do clube.

Além do Troféu Osmar Santos (concedido pelo Lance!), à equipe que termina o primeiro turno do Brasileirão em primeiro lugar, ele permanece como patrono vitalício da equipe de esportes das rádios Globo-CBN, chamada de Equipe Osmar Santos.

O último gol de Pelé

Osmar esteve no velório do Rei Pelé, na Vila Belmiro, em Santos, no dia 2 de janeiro de 2023. Sempre sorridente e muito solícito, ele foi entrevistado pelo repórter Osvaldo Pascoal, da ESPN, durante o programa ESPN FC.

Dentro de suas limitações, a pedido de Pascoal (que tem uma grande amizade com o ex-locutor), Osmar narrou um gol de Pelé, o último antes de seu sepultamento, comovendo não só o repórter, ao vivo, mas toda a equipe nos estúdios, comentaristas e os telespectadores. O ato foi repetido para outras emissoras, ao ser abordado pelos jornalistas.

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