Há duplas inesquecíveis do futebol e, se falarmos do Santos, algumas vêm a mente rapidamente. Neymar e Ganso, Robinho e Diego e, voltando mais para trás no tempo, Pelé e Coutinho.

    Pelé, Pepe e Coutinho no Santos

    Aliás, o centroavante Coutinho, de técnica genial, dribles curtos e secos, passes precisos e frieza calculista dentro da área, foi o melhor parceiro Pelé, que faleceu na última quinta-feira (29).

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    A dupla santista atuou entre 1958 e 1966 e foi responsável pelas famosas tabelinhas que envolviam e deixavam os adversários perdidos. E não só. Pela semelhança física entre os jogadores, além da técnica apurada de ambos, eles deixavam até os locutores confundidos. Reza a lenda que os esparadrapos que Coutinho utilizava em um dos pulsos era para evitar a confusão.

    Mas, se um se tornou o Rei do Futebol e o símbolo máximo na Vila, o outro não deixou a equipe da melhor forma…

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    Trajetória na Vila Belmiro

    Coutinho e Pelé

    Antônio Wilson Honório chegou ao Santos com apenas 14 anos de idade. O rapaz fugiu de casa para jogador futebol, já que seu pai o proibiu de entrar no mundo da bola, recusando convites de Flamengo, São Paulo e Corinthians.

    No time que Pelé era Rei, Coutinho era o Príncipe – ou, como muitos o reconheciam, o gênio da pequena área. Mas, digamos, que o sucessor era deveras rebelde.

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    Para começar, o jogador não celebrava os gols que marcava: foram 412 na carreira (370 no Santos). Além disso, Coutinho preferia dar um passe para gol a marcar o tento sozinho, o que o tornou um assistente de primeira para Pelé.

    A dupla de ataque formada pelos dois levou o Santos a ser campeão paulista seis vezes (1960/61/62/64/65 e 67), brasileiro cinco vezes (1961/62/63/64 e 65) e bicampeão mundial e da Libertadores (1962/63).

    Decadência

    Coutinho na Seleção Brasileira

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    Nascido em Piracicaba no dia 11 de junho de 1943, Coutinho ganhou esse nome porque sua mãe o chamava de “Coto de Gente”. Teve uma ascensão na carreira muito rápida: após estrear no Santos com 14 anos, ganhou a vaga de Pagão com 15, tornou-se o parceiro ideal de Pelé aos 16 e, aos 18, já era o centroavante titular da Seleção Brasileira (foto acima).

    Porém, após se tornar campeão da Libertadores e do Mundial com apenas 19 anos de idade, sua carreira começou a atravessar percalços. Aos 20 anos, Coutinho realizou duas cirurgias nos meniscos e, então, entrou em decadência precoce.

    Com ou sem Pelé, Coutinho brilhou no time da Vila Belmiro. Aos 16 anos, marcou cinco gols na goleada de 12 a 1 na Ponte Preta, pelo Campeonato Paulista. Aos 17, fez cinco gols na vitória do Peixe em cima do Basel, na Suíça. Em 1962, então com 19 anos, chegou a marcar dez gols em três jogos oficiais consecutivos (Esportiva, XV de Piracicaba e Peñarol).

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    O jogador estava em plena forma e foi inscrito para ser o camisa 9 da Seleção Brasileira na Copa de 1962, mas, antes da viagem para o mundial, levou uma pancada e acabou perdendo a vaga para Vavá.

    Com futebol inconstante e sem conseguir controlar o peso – um tormento que lhe afetou a vida toda -, aos poucos o jogador foi perdendo espaço. Perdeu o lugar na equipe santista para Toninho Guerreiro e ficou fora da Copa da Inglaterra em 1966.

    Coutinho saiu do Santos e defendeu o Vitória, em 1968, a Portuguesa, em 1969 e, no mesmo ano, voltou ao Peixe, onde teve um fim deprimente.

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    Desonra

    Coutinho fora de peso

    Em 1970, o parceiro de Pelé de longa data estava de volta à Vila para retomar a parceria. Com o peso controlado e recuperado de uma lesão no tornozelo, técnico e dirigentes esperavam que Coutinho voltasse a brilhar como nos velhos tempos. Aliás, naquela época, o jogador participava de jogos na praia e encantava todo mundo que o via devido a sua habilidade e técnica com a bola.

    O jogador, então com 25 anos, ainda mancava, mas dizia que nada disso atrapalhava o seu futebol.

    “No começo doía, mas agora é como um cacoete. Manco por mania e só sei disso porque os outros me falam. Eu nem percebo”, disse o jogador em entrevista ao jornal Cidade de Santos em 8 de janeiro de 1970.

    Contudo, o jogador não vingou e, no final daquele ano, foi colocado na lista de dispensa do clube. Ele foi proibido de treinar pelo general Osman R. de Moura, com a alegação de que não interessaria mais ao Santos e não teria o contrato renovado.

    Em resposta, o centroavante entregou uma carta à imprensa, pedindo para que fosse divulgada, pois, segundo ele, estavam envolvendo seu nome injustamente em acontecimentos nebulosos.

    “Ao chegar, hoje pela manhã ao Estádio do Santos Futebol Clube, para treinamento de rotina fui surpreendido pela comunicação de que meu nome fora incluído na lista de dispensa de jogadores”, iniciou o jogador na carta.

    “Em qualquer outra ocasião, tal notícia seria recebida com naturalidade, pois é fato normal na vida dos clubes que estes aproveitem ou dispensem os futebolistas de acordo com o interesse ou necessidade do momento”, continuou.

    Coutinho afirmava que, como profissional, entendia a decisão, mas que as circunstâncias que cercavam a dispensa e as notícias da imprensa denegriam a sua imagem.

    “O que é mais grave, porém, é que tanto a minha vida profissional como particular podem ser séria e irremediavelmente prejudicada, pela interpretação improcedente de que a medida foi tomada por razões de ordem disciplinar e mesmo moral”, disse no texto.

    Na carta, o jogador pediu que os responsáveis pelo departamento de futebol do Santos, que se encontravam fora do país, viessem à público desmentir os fatos que o colocaram na dispensa, para não manchar a sua imagem com cidadão e pai de família.

    “Tão logo retornem os mencionados dirigentes, procurá-los-ei para tratar da questão e estou certo de que, tratando-se de homens de bem, ditados de notável espírito humanitário e de justiça vão reconsiderar o meu caso, e se, por fim, julgarem que meu concurso é prescindível ainda assim não permitirão que um atleta que tantos serviços já prestou ao clube e mesmo à Seleção nacional; que sempre soube honrar a camisa alvinegra, seja atingido de forma tão rude e desabonadora”, afirmou.

    Fim

    Coutinho treinador do Santos

    Após abandonar a vida de atleta poucos anos depois, quando passou por Atlas (México) e pelo Bangu, Coutinho iniciou a carreira de treinador. Trabalhou nas divisões de base do Santos, Valeriodoce, Comercial e Operário de Campo Grande, Bonsucesso (RJ), Santo André e Itaquaquecetuba.

    Foi casado com Vera Lúcia Vieira Honório, com quem teve duas filhas. No dia 11 de março de 2019, devida a complicações da diabetes e do Mal de Alzheimer, Coutinho faleceu, aos 75 anos.

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