Em sua despedida, Galvão Bueno mostra que é um dos maiores narradores da história da TV, marcando a vida dos telespectadores que se emocionaram com as vitórias de Ayrton Senna, o tetra e o penta da Seleção Brasileira e as medalhas de ouro em várias olimpíadas.
O narrador sempre se preocupou em fazer o seu trabalho com excelência, não deixando passar nenhum lance durante uma partida. Mas logo em sua primeira Copa do Mundo ele viveu a grande gafe de sua carreira.
Em 1974, o Brasil buscava o tetra na Copa da Alemanha, e Record, Bandeirantes e Gazeta transmitiram juntas o torneio na ocasião. O novato Galvão Bueno, que naquele ano ganhou um concurso de locução e foi contratado para a rádio, teve a chance de fazer sua estreia na TV e foi escalado para narrar o jogo entre Bulgária e Suécia.
O jogo errado
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Galvão estava no Brasil e narrava diretamente dos estúdios na Avenida Paulista. Assumiu o microfone com empolgação e começou a locução da partida. Seguindo o script, Suécia estava de uniforme amarelo e Bulgária de uniforme branco. Assim, Galvão seguiu tranquilamente seu trabalho, com toda segurança.
Mas, após a bola sair de campo, a câmera focaliza o placar do estádio que mostrava Alemanha Oriental x Austrália (foto acima).
“Em determinado momento, lá pelos 15 minutos do primeiro tempo, a Suécia foi ao ataque, Simonsen chutou em gol e a bola saiu pela linha de fundo. ‘Tiro de meta para a Bulgária.’ Quando eu disse isso, a câmera deu um close no placar e apareceu: Alemanha Oriental 0 x 0 Austrália. O jogo era outro!. Olhei para os lados, meus colegas estavam tão surpresos quanto eu. Comecei a narrar ‘Tiro de meta para a Alemanha Oriental’, e fomos em frente. Austrália de amarelo, Alemanha Oriental de branco”, relatou em seu livro Fala, Galvão!, lançado em 2015.
Apenas um nome na memória
Em entrevista ao Mesa Redonda, em 6 de janeiro de 2020, Galvão confessou que não fazia ideia qual era os nomes dos jogadores da Alemanha Oriental e Austrália.
“Eu olhei para os comentaristas e disse que me virava aqui com a escalação. Eu narrava ‘bate o tiro de meta a Australia, e a bola vai para a Alemanha Oriental’, narrava sem a escalação. Eu confesso que dos 22 em campo eu só sabia o nome de um – Sparwasser, que era da Alemanha e jogou uma barbaridade. ‘Toca a bola Alemanha Oriental, passa por Sparwasser, e vai para a linha direita, Alemanha continua, toca para Sparwasser…’ e assim foi”, relatou.
Mesmo com esse fato pitoresco, Galvão Bueno disse que sua passagem pela TV Gazeta foi muito importante em sua carreira.
“A Gazeta trabalhou com grandes profissionais, mas ela sempre teve as portas abertas para quem tinha talento, vontade e muita disposição para trabalhar. A Gazeta deu oportunidades para jovens, e eu fui um deles. É uma marca forte do jornalismo esportivo brasileiro. A Gazeta foi minha grande escola no jornalismo”, falou.
São 13 Copas do Mundo que Galvão empresta sua voz e sua emoção, e agora, se despedindo dos mundiais, o público espera que ele narre muitas vitórias da nossa seleção que busca o hexa no Catar.