Preconceito: jogador brasileiro foi excluído de time após descobrir HIV
26/07/2023 às 17h47
No final dos anos 1990, o jogador brasileiro Eduardo Esídio chegou a ser impedido de jogar futebol pelo seu clube, depois de ser diagnosticado com HIV. Lutando contra o preconceito, o atacante conseguiu dar a volta por cima e triunfar no esporte.
Eduardo Esídio (Reprodução / Web)Nascido em Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, Esídio fez sua carreira no Peru, onde chegou a jogar pelos dois maiores clubes do país e deixou sua marca com gols e títulos.
Em 1998, Lica, como era conhecido, recebeu a oportunidade de mudar sua vida. Aos 27 anos, foi jogar pelo Deportivo Universitario de Deportes, sua chance de deslanchar na carreira.
Porém, no exame médico antes da pré-temporada, a La U coletou amostras de sangue do atleta e, sem o seu consentimento, realizou um teste de HIV. Na contraprova, ele testou positivo para o vírus. Um dirigente do clube vazou a informação quando Esídio estava de férias no Brasil.
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A notícia pegou o atacante e sua família de surpresa. Nos jornais e nos noticiários peruanos a manchete era “está doente, tem Aids” e não demorou para a novidade chegar ao Brasil. Com o apoio da família, o jogador foi convencido a fazer um exame mais detalhado e foi comprovado que, embora fosse soropositivo, ele não tinha Aids.
Ao voltar para o Peru, Lica recebeu o aviso que o presidente do Universitario havia rescindido seu contrato. Embora estivesse contaminado, ele poderia continuar sua carreira e começou a brigar na Justiça pelo seu direito.
Após muita luta, Lica foi “autorizado” pelo médico do clube, Osvaldo Piazza, que o defendia e pregava sua integração ao elenco, e pelo Ministro da Saúde, Marino Costa, que atestou que sua presença em campo não representava um risco para os demais atletas.
A volta por cima
No final de abril de 1998, Esídio voltou a fazer aquilo que mais ama, jogar futebol, no entanto ainda sob muita perseguição, declarações negativas de figuras de cargos importantes e ex-jogadores do Peru.
Com muita fé em Deus, o atacante seguiu e, logo no primeiro ano pela La U, foi artilheiro da competição, com 25 gols, e levou o clube ao posto de campeão nacional.
Na Libertadores de 1999, Lica voltou a sofrer preconceito. Em um jogo contra o Universidad Católica, em Santiago, no Chile, o atacante disputou uma bola no alto contra um zagueiro e ambos cortaram a cabeça.
Os jogadores da Católica exigiram do juiz da partida que Esídio fosse retirado do jogo, embora a transmissão do vírus por esse meio seja muito improvável.
Seu nome na história
Lica marcou seu nome mais uma vez na história do clube quando fez o gol na inauguração do Estádio Monumental.
No ano seguinte, o atacante repetiu o feito: artilharia e título. Naquela temporada, somente o compatriota Jardel, atacante do Porto, marcou mais gols que Esídio no mundo. Foram 37 gols contra 39 de Jardel.
Esídio então trocou a La U pelo Alianza Lima. No time da capital, sob o comando de Paulo Autuori, mais uma vez sagrou-se campeão peruano.
Hoje, Eduardo Esídio mora em sua cidade natal com a esposa, Soraya, e a filha.