Quem sai aos seus não degenera. O ditado popular cabe como uma luva na trajetória do Rei Pelé, que morreu ontem (29), vítima do câncer. O menino Edson Arantes do Nascimento era filho do mineiro João Ramos do Nascimento. Natural da pequena Campos Gerais, ele ficou conhecido como Dondinho e fez bonito nos gramados. Era, até então, o Rei das Gerais.

    Edinho, Pelé e Dondinho

    Alexandre Garcia, ainda quando apresentador do Bom Dia Brasil, descreveu o início da fama de Dondinho com maestria:

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    “Vou contar uma história que aconteceu com o pai de Pelé, Seu Dondinho. Entregador de leite, alto e forte, ele era a estrela do time de Campos Gerais. Driblava todo time adversário e, depois, fazia gol de cabeça. Os torcedores da época garantem que Dondinho era melhor que Pelé. Até que um dia, em um jogo contra o time de Alfenas, Dondinho e a bola estavam incompatíveis. Dondinho deveria estar doente. O time local perdeu e a torcida ficou furiosa com o jogador. O presidente do clube, o padeiro Alcides, demitiu Dondinho e ele teve que deixar Campos Gerais por causa da fúria da torcida. Foi para Três Corações, onde entrou no time do Exército, e abriu seu coração. Casou e, em outubro de 1940, nasceu Édson, o Pelé. Este é o único caso em que a fúria da torcida gerou um rei”, declarou.

    Do Exército para o Futebol

    Dondinho no Atlético MG

    Dondinho foi para Três Corações no início dos anos 30, para servir ao Exército, e entrou no time do quartel. Conciliou as duas atividades e, logo que pôde, dedicou-se exclusivamente ao futebol. Sua carreira profissional começou no Yuacan F.C., de Itajubá (MG), segundo consta uma versão da história do pai de Pelé.

    De cara, ele conquistou um recorde: foi o único jogador do Brasil (quiçá do mundo) a fazer cinco gols de cabeça numa única partida, em toda a história do futebol. Aliás, todo mineiro é contador de história, por isso dizem que o feito de Dondinho aconteceu mais vezes. Se é verdade, nunca se vai ter certeza, mas que o povo conta, conta. Dondinho era cabeceador inato.

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    O “bicho era bruto”. Alto, rápido e forte, como muitos alegam, Dondinho fazia bonito. Conforme matéria do Baú do Esporte, do GE, o jogador tinha o “posicionamento de mil Romários e o cabeceio de mil Dadás”. Ninguém o segurava.

    “Era um craque. Centroavante que não ficava apenas preso dentro da área. Sabia jogar pelo chão, além de ser um grande cabeceador. Uma vez, quando o Atlético (Clube de Três Corações) conquistou um título, Dondinho foi carregado pela cidade. (…) era jogador para Seleção Brasileira”, conta Victor Cunha, ex-presidente do Atlético e historiador de Três Corações (falecido em 2014) em matéria do GE, em 2010.

    Dondinho passou (à jato) pelo Atlético Mineiro (foto acima), jogando apenas uma partida. Devido a uma lesão no joelho, no primeiro jogo que disputou pelo Galo, o jogador precisou se afastar e logo voltou a Três Corações.

    Nem o Rei superou…

    Dondinho, Pelé e Dona Celeste

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    De tão bom, nem seu filho Pelé conseguiu o feito das cabeçadas subsequentes numa mesma partida. O Rei do Futebol, o tricampeão, o jogador com mais de 1.200 gols, um dos maiores do mundo “pagava pau” para o pai, sua maior inspiração.

    Pelé era fã de Dondinho. Falava do pai com orgulho, de peito cheio. Contava os “causos” do maior jogador do sul de Minas para quem quisesse ouví-lo. E quem não se curvava à majestade Rei e o ouvia o quanto fosse?

    “Meu pai, o Dondinho, era muito conhecido, fazia muitos gols. O Dondinho foi o único jogador que fez cinco gols de cabeça num jogo. Foi meu pai. O único recorde de gols que o Pelé não quebrou foi esse”, orgulhou-se Pelé, em entrevista ao finado Jô Soares.

    Dondinho era o rei de Três Corações, antes e depois de seu filho nascer. Sem dúvida, o gol mais incrível de sua vida foi fazer Pelé, em dobradinha com D. Maria Celeste, esposa de um craque e mãe de outro. Fazendo um trocadilho sarcástico, Dondinho, “pimba na gorduchinha” e fez Pelé, meses depois do seu recorde de cabeçadas (o único com registro histórico).

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    Dondinho era uma joia escondida no interior. Merecia alçar voos maiores. Juntamente com o time de São Lourenço (MG), ele e sua família foram para Bauru (SP) quando Pelé tinha apenas três anos de idade.

    Começou a jogar no Bauru Atlético Clube (o famoso BAC ou Baquinho, para os íntimos). Pelo clube, jogou 199 partidas, marcou 137 gols e fez o time ser Campeão do Interior, em 1946. Permaneceu no BAC até 1952, quando pendurou as chuteiras. Depois que Pelé se fincou na Vila Belmiro, Dondinho e D. Celeste se mudaram para Santos, onde, em 1996, aos 79 anos, o pai do Rei faleceu.

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