Foi-se o tempo em que o futebol era “coisa de menino”. Está aí a Seleção Brasileira de Futebol Feminino, que não nos deixa dúvida da competência e conhecimento das mulheres sobre o esporte bretão.

    Além de estar em campo, há mulheres apitando os jogos, dirigindo clubes renomados, narrando partidas e comentando competições. A mulherada tá batendo um bolão quando o assunto é futebol, mas, infelizmente, um dos maiores narradores do esporte no Brasil protagonizou e comprovou uma triste estatística: o machismo ainda é claro e notório, não só no futebol e no Brasil, mas no mundo.

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    Episódio comentado

    Ana Thais Matos e Galvão Bueno

    Galvão Bueno foi destaque nas redes sociais e veículos de comunicação nesta semana, não pelo prêmio que recebeu da FIFA e da AIPS (Associação Internacional de Imprensa Esportiva) pela cobertura de 13 Copas do Mundo, mas por sua atitude frente aos comentários da jornalista Ana Thais Matos (na foto acima com o narrador).

    A bomba estourou durante a transmissão do jogo do Brasil contra a Suíça, segunda-feira (28), quando inúmeros telespectadores notaram que o narrador ignorava os comentários da jornalista, fato que aconteceu diversas vezes durante a partida. Essa foi a gota d’água para uma enxurrada de comentários no Twitter sob a hashtag #machismo, gerando uma discussão sobre o assunto nas redes sociais.

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    Quando o movimento começou, diversos internautas relatavam ter percebido o descaso e/ou interrupção dos comentários de Ana Thais, antes mesmo deste jogo, apontando que o tratamento dado aos profissionais homens era totalmente diferente do que Galvão dedicava à jornalista.

    “Impossível não perceber que Galvão Bueno ignora praticamente todas as análises (ótimas, aliás) de Ana Thaís. Ela comenta e ele não diz nem um ‘a’ ”, comenta Paulo Floro, jornalista e editor.

    Para os internautas, a comentadora foi deixada de escanteio.

    “Muito legal ter uma mulher comentando o jogo do Brasil na Globo, para ficar bom mesmo, só falta os comentaristas homens interagirem com ela”, disse a jornalista Kamille Viola, em seu perfil no Twitter.

    A colunista do portal UOLMilly Lacombe, comentou que a escalação de Ana Thaís é uma grande conquista, mas sua opinião difere da maioria masculina.

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    “O fato de Ana Thaís ser escalada pela emissora como comentarista é um grande feito, mas a opinião dela é sempre muito diferente da opinião do comentarista masculino, que normalmente é reverberada entre eles. A opinião feminina cai na vala do ‘hum-hum. Segue o jogo’. Não se demonstra tanto interesse pelo que dizem as mulheres”, afirmou Lacombe.

    Fingiu que não era com ele

    Galvão Bueno Copa

    Galvão, por sua vez, calou-se e fingiu que não era com ele. O narrador foi ao Twitter na terça-feira (29) comemorar (e se vangloriar, é claro!) o prêmio que ganhou, mas “de pênalti”, inúmeros usuários o encurralaram, criticando sua atitude ou mesmo cobrando uma retratação.

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    Para piorar a situação, ao invés de encarar o acontecido Galvão Bueno ocultou a maior parte dos comentários que citavam o caso. Dentre as mensagens ocultas, estão: “podia comemorar respeitando a comentarista mulher ao seu lado”; “muito bom, agora é só respeitar mais a comentarista que deita nas transmissões”; “parabéns, sucesso. Vai ser difícil pensar na seleção brasileira na próxima Copa sem sua voz, deve ser igual ao silêncio que você dá na Ana Thaís Matos após ela comentar”, “Parabéns, mas trate melhor a Ana”.

    Esta é a última Copa de Galvão como funcionário da Rede Globo, por isso o ideal era “fechar com chave de ouro” esta edição do Mundial. Mas, pelo que parece, o que ficará de recordação é a absurda falta de respeito e profissionalismo para com Ana Thais.

    Reposta da Globo

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    A Globo enviou uma nota ao Na Telinha desconversando o ocorrido.

    “Nas transmissões, há equilíbrio na inserção do trio de comentaristas que analisam os jogos do Brasil. O clima entre a equipe é ótimo, de muita cumplicidade. Desde o anúncio de que Ana Thaís iria comentar as partidas do Brasil, Galvão Bueno valorizou em algumas oportunidades a importância de se ter uma mulher nas transmissões” , dizia a nota.

    “Esse tipo de especulação só contribui para minimizar a ocupação deste espaço, que antes era reservado unicamente aos homens”. O perfil oficial da emissora publicou uma foto dos dois juntos e sorridentes e escreveu na legenda: “Essa dupla tá brilhando demais na Copa do Mundo, né? Sexta-feira tem mais jogo do Brasil, hein?”, completava.

    A jornalista é a primeira mulher a comentar jogos masculinos na TV aberta. É uma das pioneiras no jornalismo esportivo. Em entrevista ao G1, ela também falou a respeito de o momento ser favorável ao empoderamento feminino na televisão brasileira:

    “Nós saímos do lugar do entretenimento e passamos a ocupar o lugar de opinião dentro do jornalismo esportivo. Se você liga a TV de manhã e passa pelos principais canais de esporte, sempre vai ter uma mulher debatendo”, afirma.

    Quem é Ana Thaís?

    Ana Thaís Matos futebol

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    Ana Thais Matos tem 37 anos e é formada em jornalismo pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), vaga que conseguiu através do Prouni e fez jus à oportunidade. De cara, já começou estagiando em veículos de esporte, como o Diário LANCE! e a BandSports.

    Em 2012, entrou para o Grupo Globo e passou a trabalhar como repórter da Rádio Globo São Paulo e da Rádio CBN como setorista do Palmeiras. Em 2018, estreou no SporTV, na Copa do Mundo da Rússia, e foi a primeira comentarista feminina da TV Globo, durante a Copa do Mundo Feminina, na partida entre Brasil e Jamaica.

    No futebol masculino, comentou a partida entre Santos e Athletico Paranaense. Desde então, atua em vários jogos (masculinos e femininos) do Brasileirão, destacando-se a ponto de, em 2020, vencer o troféu ACEESP – Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, na categoria Comentarista de TV.

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