O protagonismo feminino dentro e fora dos gramados na Copa do Catar

Renata Silveira, Natalia Lara, Renata Mendonca e Ana Thais Matos

Decididamente, a Copa do Catar vai entrar para a história como um do Mundiais mais surpreendentes. Seja pelas “zebras”, pelas restrições impostas aos visitantes ou mesmo pela contradição de ser sediada em um país cruel com as mulheres e, ainda assim, ter a maior cobertura jornalística feminina de todas as edições.

O Grupo Globo, que tem a exclusividade de transmissão na TV aberta e canais pagos, teve em sua equipe quase uma dezena de mulheres, entre narradoras, comentaristas, produtoras e diretoras.

Além de Ana Thaís Matos, Renata Mendonça, Fernanda Colombo, Fabíola Andrade, Natália Lara e Renata Silveira, a emissora carioca contou com os comentários da jogadora da Seleção Feminina, Formiga. Nos bastidores, uma das principais executivas da área é Joana Thimoteo.

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Pioneirismo

Renata Silveira foi a primeira mulher a narrar futebol masculino em TV aberta, no Brasileirão. A jornalista já fazia parte do time do SporTV e Premiere, além de ter uma passagem pelo Fox Sports. Ela também narrou a Supercopa Feminina.

A consagração desta conquista histórica está acontecendo agora, na Copa do Catar. Novamente, Renata é a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo na TV Brasileira, quiçá no mundo.

“O espaço para as mulheres vem crescendo bastante. Isso depende de oportunidades, porque a gente tem muitas mulheres capacitadas para estarem ali, mas às vezes não têm a oportunidade. Os veículos, não só a Globo, estão abrindo os olhos para as mulheres”, afirmou Renata ao Globo Esporte.

Mas a jornalista não está sozinha nesta empreitada. Junta-se a ela a comentarista Ana Thais Matos, que também deixará sua marca de pioneirismo no jornalismo esportivo. A jornalista é a primeira mulher a comentar jogos masculinos na TV aberta.

Em entrevista ao G1, ela também falou a respeito de o momento ser favorável ao empoderamento feminino na televisão brasileira.

“Nós saímos do lugar do entretenimento e passamos a ocupar o lugar de opinião dentro do jornalismo esportivo. Se você liga a TV de manhã e passa pelos principais canais de esporte, sempre vai ter uma mulher debatendo”, afirmou.

Segurando a onda

Essa dupla também se destacou quando, juntas (uma narrando e a outra comentando), estrelaram a transmissão da fatídica partida entre Dinamarca e Finlândia pela Eurocopa 2020 (foto acima).

Na ocasião, Christian Eriksen, meia da Dinamarca, teve um mal súbito (posteriormente, passou por uma cirurgia cardíaca) e desmaiou em campo. Ambas dominaram a situação inusitada com maestria, levando informações oficiais aos telespectadores, sem pânico ou desconforto. Um show de transmissão!

Mas vale ressaltar aqui que, ao contrário do que passou Ana Thais, Renata Silveira foi muitíssimo bem recebida por Galvão Bueno quando começou a atuar nos jogos. Mesmo assim, superando qualquer saia-justa, Ana Thaís orgulha-se do momento:

“Uma Copa plural, de vários rostos, de várias vozes, em um país difícil, que não enxerga as mulheres. Estou me permitindo emocionar e tentando entender o que eu vou viver, levar como mulher. Eu não posso deixar de falar desse lugar. É por isso que eu estou aqui, ser mulher me conduziu até aqui”, declarou.

Batendo um bolão

Também estão batendo um bolão Natália Lara e Renata Mendonça, comentando os jogos pelo SporTV.

“Pela primeira vez, as mulheres que vão assistir a Copa do Mundo pelo Brasil todo vão ver outras mulheres e vão se sentir representadas e se reconhecer ali”, refletiu Natália.

Inclusive, ela foi a primeira mulher a narrar um jogo da NBA, no Brasil e a primeira voz feminina da América Latina a aparecer no jogo de vídeo game FIFA 23.

Integrando o time, Karine Alves e Carol Barcellos foram responsáveis pelas entradas ao vivo. Nos comentários sobre a arbitragem, foi a vez de Janette Arcanjo e Fernanda Colombo.

Em entrevista à coluna Women To Watch, do portal Meio&Mensagem, Karine Alves declarou:

“Essa porta estava fechada e não fomos convidadas para entrar, mas nós batemos e batemos, ninguém nos ouviu e tivemos que arrombar. Esta edição é resultado, em primeiro lugar, de insistência, resiliência e competência das mulheres. Em segundo lugar, das empresas que já entenderam que diversidade dá lucro, além de ser um pilar importante. Diante da nossa sociedade brasileira, em que mais de 50% da população é negra, e as mulheres também representam um número expressivo, é preciso se voltar para entender esse público”, disse.

Completando esta seleção, temos a jogadora Formiga que, como comentarista, abriu espaço para que outras jogadoras façam o mesmo.

“Isso só aumenta essa crescente das mulheres em espaços comuns de homens. Esse é o nosso papel”, afirmou a futebolista.

Nos gramados

Mas não foi só nas mídias que o cenário se abriu para as mulheres. Nas próprias partidas, tivemos mudança.

A FIFA escalou as primeiras mulheres a apitar jogos num Mundial: Stephanie Frappart (França), Salima Mukansanga (Ruanda) e Yoshimi Yamashita (Japão); e as auxiliares Neuza Back (Brasil); Karen Díaz Medida (México) e Kathryn Nesbitt (Estados Unidos).

É o poder feminino tomando seu espaço de direito e conquistando novos, com competência.

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