Todo mundo sabe que a Globo preza por um padrão de qualidade que, se por um lado exige o melhor desempenho de seus profissionais, por outro acaba por tolher a criatividade deles.
Gustavo Villani e Luis Roberto (Reprodução / Web)Gustavo Villani, narrador da emissora, levou um puxão de orelha após utilizar a frase “Puskás que Pariu” na transmissão da final da Copa do Brasil entre Flamengo e Corinthians, em 2022.
Conhecido por ser mais um narrador que rompe o estilo tradicional e leva sua irreverência para as transmissões, Villani foi até o limite para um jogo de alcance nacional.
Proibição indireta
Gustavo Villani se divide entre os canais fechados do grupo Globo (SporTV e Premiere) e a rede aberta, mas na ocasião falava para todo o país.
Segundo o comunicador, em entrevista para o canal do YouTube Mundo GV Betano, a Globo não deu uma bronca, mais sim um aviso.
“Eu só usei aquela vez. Não foi uma dura, mas foi uma ligação assim ‘Cara, está a maior repercussão, gente escrevendo contra e a favor’ (…) E eles me chamaram atenção para a questão da TV Globo. Eu disse que não estava entendendo se havia sido bom ou ruim, e explicaram que era só pra não usar na TV Globo. Virou chamada no SporTV depois, aí eu entendi que tinha sido legal”, declarou Villani no dia 29 de maio de 2023.
Disruptivo, mas nem tanto
Villani não é o único a adotar essa nova fórmula de narrar jogos, desprendida de formalidades. Outros locutores também adotaram o mesmo caminho, casos de Everaldo Marques, Rômulo Mendonça, André Henning, Octavio Neto, entre outros.
A linguagem muda e os jornalistas precisam acompanhar o que o Mundo pede. Villani também abordou o tema em entrevista, questionando até onde se pode arriscar um novo estilo.
“Eu não fico chateado, mas eu fico pensativo. Se a ideia geral é fazer uma disrupção, porque isso é uma pauta da grande mídia (…) até onde e quando eu posso tentar arriscar? A ideia é fazer uma sucessão, então eu tento fazer. Eu perguntei ‘Vocês querem que eu faça o que sempre foi feito? Porque esse eu conheço, eu já sei como o pessoal narra futebol na TV Globo’. Eu não posso inventar a roda, então ‘Vamos junto tentar tocar algo novo ou [não]?’, argumentou.
Puskás que pariu nunca mais
De acordo com o jornalista, a direção da emissora alegou que os públicos de TV fechada e aberta são diferentes. Os fãs do SporTV gostam de algo segmentado, enquanto na rede aberta o narrador conversa com o povão.
“O Puskás que pariu cabe no SporTV, mas na Globo… [eu recebi] uma chamada de canto. A Globo tem um alcance muito maior que o da TV fechada, que é mais segmentada, com um público de conhecimento mais específico do esporte. Eles [direção da Globo] entendem que o Púskas é mais conhecido para o SporTV e Premiere do que para a TV Globo. Talvez o tiozão lá na portaria ou a tia cozinhando não escutem Púskas, vão ouvir ‘p*** que pariu’. E como é que você fala um palavrão na hora do gol na TV Globo?”, explicou Villani ao podcast.
Ex-substituto de Galvão
Cotado inicialmente para ser um dos substitutos da lenda Galvão Bueno, já que foi apresentado ao canal pelo narrador, Villani ficou chateado por não participar da cobertura in loco da última Copa.
Em entrevista ao canal de Duda Garbi no YouTube, o narrador revelou que ficou “puto” ao saber a decisão da emissora.
“No meu íntimo, com os meus sonhos, na minha conversa de quem narrou a final de 2014, e que ia narrar o Brasil em 2018, eu tô puto e olho no espelho e penso: jamais imaginava que isso ia acontecer. Agora: estou puto com a Globo? Não, eu entendo, eu tenho discernimento, teve uma pandemia, o câmbio explodiu. É uma Copa cara”, justificou no dia 14 de novembro do ano passado.
Com passagens por ESPN Brasil e Fox Sports, Gustavo Villani compõe o time de narradores do Grupo Globo desde 2018.