Médico da Seleção de 1966 pediu para mudar de setor e ir para rouparia

Dr. Hílton Gosling e Pelé

Hilton Lopes Gosling, mais conhecido como Doutor Hilton Gosling, foi um médico de opinião firme e princípios rígidos. Fez parte da delegação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958 e modificou a forma de ver os atletas na época.

Contudo, seu comprometimento com a medicina gerou confusões, principalmente com o técnico Vicente Feola, com quem teve um desentendimento em 1966.

Pedido de demissão

Naquele ano, o Dr. Hilton Gosling fez um pedido formal de demissão da Seleção. Em uma carta dirigida ao então presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), Sr. João Havelange, o médico fez duras críticas ao comando técnico do time e citou uma série de acontecimentos desconhecidos do público.

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Revoltado, o técnico da Seleção campeã de 1958, Vicente Feola, afirmou que a denúncia era uma trama para derrubá-lo e que iria tirar a história a limpo com Havelange.

Denúncias

Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã.

Em carta divulgada na Revista do Esporte do RJ, em 8 de janeiro de 1966, Dr. Gosling fazia algumas queixas, entre elas o fato de sua recomendação de poupar jogadores em determinada partida não ter sido atendida.

Em 1963, a Seleção Brasileira fez uma excursão pela Europa e, após o médico avaliar os 28 jogadores, identificou que apenas três estavam em condições físicas satisfatórias.

Após uma partida realizada em Lisboa e nova avaliação, Dr. Gosling e sua equipe sugeriram que outros atletas fossem aproveitados, o que teria sido anuído pela Comissão Técnica.

“Qual não foi, porém, a nossa surpresa de verificar que a equipe escalada para o jogo com a seleção belga era quase a mesma que havia atuado em Portugal. O resultado do jogo já sabemos: Bélgica 5 x Brasil 1”, dizia o texto.

Outra denúncia feita pelo Dr. foi que, em 1964, durante a Taça das Nações (foto acima), sua equipe fez várias ponderações sobre o trabalho preliminar, condições da concentração do time em São Paulo e as condições dos materiais utilizados, principalmente chuteiras.

“Infelizmente, nada disto foi levado em consideração”, afirmou Gosling.

Outras funções

Dr. Gosling não deixava barato em ponderar suas opiniões com ironia. Prova é, que no final da carta, ao reafirmar o seu pedido de demissão, o médico se colocou à disposição para realizar outras funções na equipe.

“O Departamento Médico parece estar sempre em desacordo com a Comissão Técnica, e vice-versa. A repetição de tais fatos em plena Copa do Mundo ou em sua fase preparatória não poderia ser recebida com a serenidade com que foram os acontecimentos acima relatados. Uma reação mais enérgica de nossa parte poderia quebrar a harmonia e a tranquilidade de uma concentração, com reflexos imediatos sobre os atletas, o que constituiria um desastre total”, começou.

“Por outro lado, sentimo-nos na obrigação de colaborar, de algum modo, na difícil campanha Londres-66. Estamos, pois, inteiramente à disposição do ilustre presidente para atuar em qualquer outro setor (rouparia, sapataria, enfermagem, secretaria, delegado, congressista, intérprete etc.), onde nossos modestos préstimos forem considerados de alguma utilidade”, finalizou.

Hilton Gosling acabou atuando com a Seleção Brasileira na Copa de 1966, na Inglaterra. Ele faleceu no dia 22 de abril de 1975, no Rio de Janeiro, em decorrência de um derrame cerebral.

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