Há 40 anos, um personagem improvável decidiu um clássico entre Palmeiras e Santos em partida válida pelo Campeonato Paulista de 1983. O Peixe estava vivendo um tabu de quatro anos sem vencer o rival e o placar do Morumbi marcava 2 a 1 para o alvinegro praiano.

    José de Assis Aragão, árbitro que marcou gol para o Palmeiras
    José de Assis Aragão (Reprodução / Web)

    Poucos minutos antes de acabar o jogo, o árbitro José de Assis Aragão entrou em ação. E não foi marcando um pênalti inexistente ou expulsando algum jogador, e sim marcando um gol.

    O jogo caminhava para o fim quando o Verdão teve um escanteio por cobrar. Aragão ficou posicionado ao lado da trave do goleiro santista.

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    A bola foi alçada para a grande área e rebatida pela zaga santista, até que o craque palmeirense Jorginho chutou de primeira o rebote, que desviou bizarramente em Aragão e foi parar no fundo da meta do Peixe.

    Para a surpresa dos jogadores e dos 35 mil torcedores presentes, Aragão apitou para o centro do gramado e saiu correndo, validando o gol de empate do Palestra.

    Betão, ex-lateral do Santos, estava presente no fatídico dia e deu seu depoimento ao Blog do JC, no dia 9 de outubro de 2021.

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    “Nosso goleiro (Marola) sempre pedia, nas cobranças de escanteios, para que os laterais ficassem nas traves. Paulo Róbson ficou em uma, e eu na outra. Quando Jorginho chutou, a gente viu que sairia. Mas bateu no árbitro e ela passou ao meu lado e foi para o gol. Não deveria ter validado”, contou Betão.

    Figura neutra

    Jorge de Assis Aragão no clássico entre Palmeiras e Santos
    Jorge de Assis Aragão no clássico entre Palmeiras e Santos (Reprodução / Web)

    Para se defender da fúria santista, Jorge de Assis Aragão alegou que o árbitro da partida é figura neutra, portanto, independente das circunstâncias, o gol tinha que ser validado. Na época, o juiz lamentou acontecer justamente com ele.

    “Tinha que acontecer comigo. Meu Deus do céu, que culpa tive se a bola bateu em mim e entrou?”, declarou à imprensa Aragão.

    O jornal A Gazeta Esportiva, um dos principais veículos da época, esclareceu que a participação do árbitro não foi intencional.

    “Aragão, figura neutra segundo as regras do jogo, teve participação física, mas não intencional. Fato idêntico aconteceu no segundo turno do Campeonato Paulista de 1949. O árbitro inglês Snape validou um gol do São Paulo marcado por Leônidas da Silva contra o Nacional. A bola, chutada por Leônidas, desviou no árbitro e enganou o goleiro”, publicou o jornal.

    Chute forte deu certo

    Jorginho no Palmeiras
    Jorginho no Palmeiras (Reprodução / Web)

    Os jogadores do Palmeiras saíram rindo da situação: um deles foi Rocha, que minimizou a raiva dos rivais.

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    “Todo mundo sabe que árbitro é uma figura neutra e o Palmeiras teve sorte. A bola bateu no árbitro e continuou em jogo. Poderia ter sido o Santos o felizardo, não é?”, respondeu o meia.

    O “autor” do gol, Jorginho, também conversou com os repórteres à beira do campo e assumiu que calculou mal a batida na bola.

    “Eu quis acertar o canto esquerdo, mas bati mal na bola, e ela sairia, se a providência não fizesse o Aragão desviá-la, sem saber o que havia feito. Saiu melhor a emenda do que o soneto e acredito que o empate premiou o espírito de luta do nosso time que, em momento algum se entregou e deixou de acreditar num resultado melhor. Só lamento que o tabu de quase quatro anos permaneça”, afirmou o craque.

    Empate com gosto de derrota

    Marola, ex-goleiro do Santos
    Marola, ex-goleiro do Santos (Reprodução / Web)

    No exato momento em que a bola morreu na rede de Marola, os jogadores do Santos saíram em disparada atrás de Aragão, que optou por encerrar a partida após o gol. As reações no vestiário eram de revolta e indignação.

    “No outro lado, socando os ladrilhos brancos do vestiário do Santos, o zagueiro Márcio lamentava a posição de José de Assis Aragão: ‘Não costumo criticar árbitros ou bandeirinhas… mas o árbitro Aragão tem que admitir que estava colocado de maneira errada no lance que gerou o gol do Palmeiras. Parece que perdemos de goleada… estou me sentindo abatido. Um gol assim derruba qualquer time, não é? O Palmeiras empatou a partida com um gol do senhor José de Assis Aragão… é, eu sei que ele é uma figura neutra, mas isso não justifica a sua colocação inadequada naquele momento’”, escreveu A Gazeta Esportiva.

    O juiz voltou a se lamentar ser o pivô do lance bizarro no clássico da saudade.

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    “Em toda a minha carreira nunca vivi esse episódio. Meu Deus do céu, que culpa tive se a bola bateu em mim e entrou? Eu já voltava para o meio do campo, depois da cobrança do escanteio, e a bola, aparentemente, já havia sido rechaçada para fora daquele setor, pela defesa do Santos, quando sobrou para o chute do Jorginho, que teve a felicidade de fazer o gol com a minha contribuição involuntária”, finalizou Aragão.

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