Como diz Cíntia Chagas, autora, professora de português e colunista da Forbes: “EX é tão ruim que deve ser sempre separado por um hífen (um traço)”. E ela está certa. Lugar de ex é bem longe. Prova disso é o futebol.
No universo futebolístico existe a Lei do Ex, também conhecida como a maldição do ex-jogador. Nada mais é: quando um atleta, após trocar de time, marca gols contra a ex-equipe.
Para o comentarista Marcelo Gonzatto, a Lei do ex é uma das mais temidas do universo da bola.
“Uma das leis mais temidas no futebol e muito mais cruel do que qualquer revisão do VAR, bem pior do que tomar gol em impedimento. Apesar de não escrita, seu artigo primeiro diz que todo ex-atleta de um clube, ao enfrentar sua antiga equipe, deverá marcar pelo menos um gol para cobrir de ódio e vergonha a torcida que antes o idolatrava” e ainda “parece que, quanto maior tiver sido o cartaz do jogador na equipe em que costumava atuar, melhor será seu desempenho contra o antigo empregador”.
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No limiar entre amor e ódio
É um caso de amor e ódio. Quando o craque está num time e traz títulos e conquistas para sua equipe, é comum que a torcida o venere, que se torne um “deus” perante milhares de seguidores. O problema é que o futebol é volátil. Um dia se está aqui, no outo acolá. Isso faz o pobre e sofredor torcedor viver grande emoções e decepções, a cada troca de escudo.
O brasileirão de 2017 foi prova disso. Em CINQUENTA ocasiões, jogadores marcaram gols contra sua antiga equipe, sendo o Botafogo e o Cruzeiro (na foto acima, em jogo contra o Palmeiras) aqueles que mais sofreram com a situação (sete gols por ex-jogadores, cada um).
É matemático!
O site do GE fez uma série de reportagens sobre a Lei do Ex, trazendo números concretos sobre tema, avaliando uma década de disputas do Brasileirão (de 2010 a 2020).
“Do total de 559 atletas com pelo menos três jogos contra ex-times no Brasileirão, 62% têm desempenho melhor diante de camisas que nunca defenderam na carreira. O Santos foi o time que mais se aproveitou da máxima, com nova bolas na rede de jogadores que enfrentavam seu ex-clubes. No Campeonato Brasileiro de 2020, dos 944 marcados, 86 gols foram sob a Lei do Ex.”, explica o texto.
Ainda nesta edição do Brasileirão, o destaque foi para o centroavante Diego Souza (foto acima), do Grêmio. Por ter passado por grandes clubes brasileiros, o jogador realmente tinha mais “chances” de cumprir o feito de marcar sobre ex-times. Ele marcou oito gols diante de times que defendeu anteriormente. Considerando todas as edições analisadas, o atacante gremista foi quem mais colocou a Lei do Ex em vigor, em uma única edição.
“O principal é a motivação. É o fato de o jogador querer voltar para aquele lugar e dar uma resposta mostrando que tem bola para voltar ao clube. Ou dar um “cala boca” no sentido de ‘eu saí, mas não devia ter saído porque ainda jogo para caramba’. Acho que é muito mais o lado motivacional do que o conhecimento do adversário”, explica o comentarista da Globo, Caio Ribeiro, em entrevista ao GE, em 26/05/2021
Do Céu ao Inferno
Mas não é só no Brasil que isso acontece não. Apesar de brasileiro, Ronaldo Fenômeno esteve na berlinda durante sua atuação no futebol europeu. Ao jogar pelo Milan, depois de ter saído de seu arquirrival, Inter de Milão, o jogador penou na mão da ex-torcida.
A partida que registrou a ira do Inter foi em 2007, no estádio San Siro. Quando o ídolo brasileiro abriu o placar da partida e comemorou o gol, os “ex” ficaram tão enfurecidos que a equipe correu atrás de virar o placar e a torcida se encarregou de infernizar o Fenômeno até o final da partida.
Outro Ronaldo…
O craque português, Cristiano Ronaldo, é um dos maiores aplicadores da Lei do Ex. Revelado pelo Sporting, de Portugal, CR7 também foi ídolo no Manchester United – em duas ocasiões.
Sua primeira passagem foi entre 2003 e 2009, onde teve grandes atuações. Depois, Cristiano Ronaldo foi para o Real Madrid, entre 2009 e 2018. Em 2013, quando o time inglês encarou o Real Madrid nas oitavas de final da Champions League, sofreu o golpe da Lei do Ex. CR7 foi o responsável pela eliminação dos Red Devils. Diferentemente de seu ex-companheiro de equipe, Ronaldo Fenômeno, CR7, em respeito ao ex-clube, não comemorou o gol, mas ainda assim, foi massacrado pela torcida.