Ídolo do Flamengo tentou de tudo, mas perdeu luta contra câncer terminal
09/03/2024 às 14h00
Nascido em Canoas (RS), Luís Carlos Tóffoli ficou nacionalmente conhecido como Gaúcho, centroavante em diversos clubes brasileiros e internacionais.
Começou sua carreira nas divisões de base do Flamengo, em 1982. Em 1984, tornou-se profissional no clube e logo foi para o XV de Piracicaba. No ano seguinte, defendeu o Grêmio e, em 1986, foi para o Japão defender o Verdy Kawasaki, onde ficou por um ano.
Passagem pelo Palmeiras
Gaúcho passou brevemente pelo Santo André, sem muito destaque, e chegou ao Palmeiras em 1988. No clube, não ganhou títulos, mas também não passou despercebido: marcou 31 gols em 79 partidas, sendo um deles histórico. O gol aconteceu em uma partida contra o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro, onde o jogador precisou substituir o goleiro Zetti, que se machucou.
A partida foi decidida nos pênaltis e Gaúcho defendeu dois deles, um cobrado por Aldair e outro por Zinho. Além disso, ele converteu o seu pênalti, dando a vitória ao Palmeiras. Essa atuação fechou a passagem de Gaúcho pelo Verdão com chave de ouro e até hoje ele é reverenciado pelo feito.
“Eu quero é jogar e correr atrás dessa bola dentro de campo. Para mim, o futebol é a coisa mais importante do mundo, é a razão da minha vida, e estou feliz de ajudar da forma que for, seja no ataque ou no gol”, comemorou Gaúcho em entrevista depois da partida.
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Volta ao Flamengo
Já em 1989, Gaúcho voltou ao rubro-negro carioca. Com atuações memoráveis, tornou-se ídolo da torcida rapidamente. Conquistou a Copa do Brasil (1990), o Campeonato Carioca (1991) e o Brasileirão (1992). Pelo Flamengo, disputou 200 partidas e marcou 98 gols.
Gaúcho foi artilheiro do Campeonato Carioca em 1990 e 1991, além de alcançar o feito na Libertadores e Supercopa, em 1991. Tamanho sucesso o levou para o Boca Juniors, para substituir Batistuta em dois jogos pelo campeonato argentino. Infelizmente, ele não teve o mesmo sucesso e chegou a ser vaiado pelos hermanos.
Outra experiência internacional do ídolo foi na Itália, jogando pelo Lecce. Foram apenas cinco jogos e logo voltou ao Brasil, onde esteve na Ponte Preta e Fluminense. O último clube defendido por Gaúcho foi o Anápolis, em 1996.
Em 2001, fundou o Cuiabá, que já na estreia venceu o Campeonato Mato-Grossense. Em 2003, tornou-se treinador do time, seguindo, em 2010, para o Mixto, de Cuiabá (MT). Em 2011, esteve no Luverdense, de Lucas do Rio Verde (MT).
A doença
O jogador foi casado com a atriz Inês Galvão por 24 anos, com quem teve quatro filhos. A família se mudou para o centro-oeste logo após sua saída do Fluminense. Gaúcho achava bom se afastar do Rio de Janeiro. Em 2008, morando numa fazenda no interior de Goiás, ele descobriu um câncer de próstata.
Mesmo assustado, Gaúcho fez radioterapia e terapia hormonal para se curar.
“Ele dizia que o tratamento incomodava muito. Reclamava que estava sempre muito cansado, sem vigor físico… Isso para ele era um drama. O Gaúcho sempre foi um atleta, e mesmo depois de parar jogar tinha uma vida muito ativa fisicamente. Com o tratamento ele engordou bastante, começou a desenvolver diabetes… E essa situação toda incomodava muito, deixava ele chateado demais. Vivia dizendo que não queria continuar daquele jeito, que precisava achar um jeito de se curar”, conta a atriz, em entrevista ao UOL Esporte.
A atriz ainda relata que no auge do desespero, a procura da cura, Gaúcho se deixou levar pela promessa de um médico paraguaio. Marcou consulta e foi atrás do que acreditava ser uma esperança.
“O Gaúcho ficava louco com todo mundo que falava contra a ideia de ir fazer o tratamento no Paraguai. As pessoas começaram a falar para eu não deixar, tentei convencer ele a não ir, mas não adiantou. Ele estava decidido e a única coisa que eu podia fazer era ir junto, não podia deixar ele sozinho. Pegamos as meninas e fomos de carro até lá. Já na chegada achei estranho: era uma clínica geriátrica, dizia a placa. Um prédio baixinho de escritórios, dentro de um condomínio residencial, não me inspirou confiança. Não parecia algo de primeiro mundo, revolucionário. Mas como ele estava empolgado, não falei nada. Entramos e não havia outros pacientes”.
Seu amigo Renato Gaúcho, parceiro do jogador no Flamengo, também se opunha ao tratamento. Na mesma entrevista, Renato Gaúcho relembra:
“Quando ele disse que ia fazer o tratamento no Paraguai, e depois quando já estava fazendo, eu dizia para ele: Gaúcho, tem alguma coisa errada com essa história meu irmão! Se esse cara tivesse a cura do câncer ele era o rei do mundo, estava em Nova Iorque, não estaria escondido no Paraguai!”
O tratamento era doloroso e ineficaz, mas Gaúcho seguia firme.
“O Gaúcho continuou tomando a testosterona e estava se sentindo ótimo. Voltou a fazer exercícios, emagreceu, ganhou tônus muscular. Parecia realmente que tinha acontecido um milagre. Quando ele dizia que estava curado, as pessoas ficavam felizes, comemoravam com ele, mas eu sentia que os amigos ficavam com um pé atrás. O Renato Gaúcho mesmo nunca acreditou nesse tratamento. Mas estávamos felizes, ele estava se sentindo ótimo, parecia saudável e tudo ia bem”, relembra a esposa.
Mas a melhora foi apenas momentânea. Gaúcho começou a adoecer novamente, refez exames e viu que, além de não ter se curado como foi prometido, ele estava pior, com metástase nos ossos.
“Depois de tudo, quando eles voltaram a morar no Rio, O Gaúcho abriu para mim o que estava acontecendo: que ele estava muito doente, não tinha sido curado coisa nenhuma, e que estava morrendo”, lembra o amigo Renato Gaúcho. “Fiquei arrasado. Pô, o cara era meu irmão! Falei com o médico do Fluminense que era meu amigo e ele me indicou um dos maiores especialistas do Brasil, em São Paulo”, conta Renato Gaúcho.
Mas seu destino estava selado. Em março de 2016, o câncer venceu o artilheiro Gaúcho. Ele morreu aos 52 anos, de mãos dadas com a esposa.