Quem acompanhou as transmissões esportivas entre os anos 1980 e 2000 tinha duas opções na TV: Galvão Bueno e Luciano do Valle – as principais vozes do esporte naquela época.
Os dois disputavam ponto a ponto os números de audiência, buscando manter o torcedor ligado na Globo ou na Band. Mas o que muito se especulava era se os dois se davam bem ou se eram inimigos.
Vozes da emoção
Nos anos 1970 e início dos 1980, Luciano era a principal voz da Globo, narrando os jogos da Seleção, a Fórmula 1 e tantos outros eventos. Ele deixou a emissora em 1983 e foi para a Record. Mesmo investindo na carreira de empresário esportivo, ele sempre esteve à frente do microfone.
Já Galvão começava sua jornada na Globo e viu na saída de Luciano do Valle a chance de crescer no canal e ser o principal locutor da casa. Isso levou alguns anos. Depois do desempenho de Osmar Santos na Copa de 1986, que não agradou ao público, Galvão se encaixou na emissora.
Mais tarde, Luciano foi para a Band e a disputa entre os dois se tornou acirrada, pois a emissora tinha os direitos das competições que a Globo exibia, além de Olimpíadas e Copas do Mundo.
“Sempre fomos amigos”
Muito foi falado sobre uma suposta rivalidade entre os dois, e que o clima não era lá muito agradável. Mas em 2020, durante uma homenagem ao narrador, que faleceu aos 66 anos após sofrer um infarto em 2014, Galvão citou o respeito e a amizade que tinha pelo colega de profissão.
“Falar do Luciano do Valle é sempre um grande prazer. Um narrador fantástico, um dos maiores comunicadores da história da televisão brasileira, mas eu gosto muito de dizer que sempre fomos amigos, mesmo sendo rivais”, declarou Galvão.
“Durante muitos anos, nós brigamos por pontos no Ibope, no bom sentido. Estávamos sempre juntos antes e depois das transmissões. Confesso que este confronto acabou me fazendo um profissional mais forte. O Luciano do Valle foi muito importante para mim neste aspecto. A TV brasileira sente muita falta do Luciano do Valle, e eu, pessoalmente, também”, completou.
Competição saudável
Antes, em 2019, Galvão já tinha falado sobre a honra de trabalhar com Luciano do Valle em seu início de carreira na Globo:
“Luciano do Valle foi um dos grandes gênios da comunicação. Nós fomos aqueles rivais que um puxa o outro. Nós competíamos na audiência, mas sempre fomos amigos. Quando eu vim, ele ficou com a Seleção Brasileira, e eu, com a Fórmula-1. Os outros jogos, nós dividíamos. Foi uma honra, para mim, ter dividido com o Luciano”, afirmou no programa O Grande Círculo, no SporTV.
Uma outra versão
Mas Neto, que comanda Os Donos da Bola e Apito Final na Band, afirmou na Rádio Bandeirantes, em abril deste ano, que a história não era bem assim.
“Durante 10 anos eu estive com ele (Luciano do Valle) nos estádios do mundo inteiro. O Galvão Bueno sequer o cumprimentava. Nunca foi em uma cabine falar pro Luciano: ‘Muito obrigado por tudo que você fez’. Não adianta falar bem quando morreu”, asseverou.
O apresentador aproveitou e ressaltou o pioneirismo e a força que o locutor sempre deu ao esporte brasileiro.
“Em 2016, teve Olimpíadas, qual foi o legado no país? O que acontece: os caras pagam pau pra Rede Globo. Os meninos sempre têm que ir lá. Quem começou tudo foi só uma emissora (Band) e uma pessoa, Luciano do Valle”, desabafou.
Infelizmente, Luciano não está mais entre nós, mas sua voz grave e a emoção que ele passou em suas transmissões são lembradas até hoje. Igualmente com Galvão, que marcou a vida de inúmeros torcedores ao longo dos anos.
Cada um com seu estilo, ambos marcaram a história da televisão brasileira.