Quem não se lembra do lateral esquerdo Branco, um dos ícones do tetracampeonato da Copa de 94 Nascido Claudio Ibrahim Vaz Leal (58), o gaúcho começou nas categorias de base do Bagé, time homônimo a sua cidade natal, no Rio Grande do Sul.
Entretanto, seu futebol começou a ver visto quando foi para o Internacional, como lateral, em 1981. Em 1983, foi para o Fluminense, onde conquistou três Campeonatos Cariocas e o Brasileirão de 1984. Em 1986 foi para o Brescia, da Itália, e seguiu para o FC Porto, de Portugal, na temporada de 1988/89, ganhando o Campeonato Português.
O lateral-esquerdo do Tetra
Na Seleção Brasileira, Branco defendeu a Amarelinha em três edições da Copa do Mundo. Na de 1986, foi duramente criticado pela imprensa especializada e, em 1994, sagrou-se campeão, trazendo o tetracampeonato para o Brasil.
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Mas a edição de 1990, sediada na Itália, marcou a carreira de Branco com um acontecimento surreal, digno de uma trama policial. Na disputa entre Brasil e Argentina, nas oitavas de final, o lateral era o batedor de faltas do Brasil e fazia um calor infernal em Turim. Devido a uma falta de Ricardo Rocha sobre Troglio, o jogo foi paralisado, aos 39 do primeiro tempo, e os auxiliares argentinos entraram com várias garrafas d’água.
A primeira “estranheza” é que as garrafas eram diferentes. Algumas estavam em recipientes transparentes e outras em garrafas coloridas. O sedento Branco, rodeado de argentinos, bebeu da garrafa verde (sabe de nada, inocente!), coisa que nenhum jogador argentino fez (segunda estranheza).
Mea Culpa
Para explicar melhor o acontecido, vale reproduzir um trecho da matéria do UOL Esporte, a qual traz a entrevista do finado Maradona, ao programa Mar Del Fondo, do canal TyC Sports, em 2004, onde escancarou a verdade sobre o fatídico episódio.
“Vascooo, desse não, desse não, do outro!”, gritou Maradona a Olarticcoechea. “Eu dizia, beba, beba, Valdito… E depois veio Branco, que tomou toda a água. Justamente o Branco, que batia as faltas e caía. Alguém picou Rohypnol na água e complicou tudo. Depois do jogo, estavam os dois ônibus juntos, e Branco me olhava pela janela e me apontava o dedo, me culpando, e respondia com gestos de que não tinha nada a ver com aquilo. Branco jogava na Itália e tínhamos boa relação. Depois disso não conversamos mais.”, confessou Maradona, gargalhando (terceira estranheza).
Rohypnol é um tranquilizante de uso psiquiátrico. Há rumores de que o executor da trama foi o massagista Miguel de Lorenzo (mais conhecido como Galíndez), e o mentor o técnico e médico Carlos Bilardo, para aniquilar o adversário.
Não há de se desmerecer a brilhante dobradinha entre Maradona e Caniggia, na Copa, mas o que pareceu um “baile” na verdade foi uma trapaça, que levou a Argentina à final contra a Alemanha.
Ainda assim, tempos depois, Branco teve a humildade de reconhecer a excelente atuação da seleção argentina naquela Copa:
“Não vou ser tonto e justificar aquela derrota com o engano dos galões. A Argentina ganhou justamente, pela genialidade de Maradona, e porque contava com um jogador diferente, como o Caniggia”, afirmou.
Até mesmo os argentinos dão razão ao Brasil. Após uma entrevista concedida por Branco, o jornal La Nación encerrou a matéria com a solidária frase: “um bom homem, vítima de uma trapaça”.
Mágoa
Anos se passaram e Branco ainda trombou a Argentina pelos campos da vida. A cada novo encontro, o lateral tentava tirar satisfação com os “hermanos”. Um dos registros foi em 1994, ano do tetra, quando a delegação brasileira encontrou a argentina, no aeroporto, e Branco, com dedo em riste, cobrou uma explicação de Galíndez, em um dos banheiros, berrando, afirmativamente, que tinha sido envenenado por ele.
O mesmo aconteceu, em outra situação, quando encontrou com o então técnico argentino, Carlos Bilardo, perguntando: “o que você quis fazer comigo, desgraçado?”.
No amistoso de veteranos, em Buenos Aires (2009), Branco foi importunado por Ruggeri, Goycochea e Basualdo (que também estavam na Copa de 1990). O trio perseguiu Branco, insistentemente, com um galão de água (nível quinta série de piada!). O ex-lateral entrou na brincadeira: “Água má, água má”, dizia.
Bola pra frente
Nem mesmo este turvo episódio escureceu a carreira de Branco. Aposentado das chuteiras, ele foi coordenador das categorias de base da CBF e coordenador técnico do Fluminense até 2009. Seguiu como técnico do Figueirense, em 2011 e em 2012 foi para o Sobradinho. Por um curtíssimo tempo foi técnico do Guarani, até que o time caiu para a série A2 do Paulistão. Na Copa de 2014 foi comentarista do BandSporte, fazendo dupla com Datena.
Sendo o vencedor que é, Branco conseguiu driblar a Covid-19, que o deixou em estado grave, entubado, em 2021. “Eu não parava, né? Só trabalhava, trabalhava. Agora mudou. Um amigo falou que parece que fui para um spa, não para um hospital. Nessas horas a gente pensa, repensa… O problema é que a gente não cuida da gente, só cuida dos outros. Tem que se cuidar mais, se amar um pouco mais. E não me arrependo. Sempre vou ajudar os outros. Ajudava e vou continuar ajudando, mas agora vou cuidar muito mais de mim”, contou Branco, em entrevista ao Lance!.