Muitos árbitros conquistaram a fama por conta de decisões polêmicas e pela rigidez com os jogadores dentro de campo. Fora das quatro linhas, vários deles se tornaram celebridades ao atuarem como comentaristas, casos de Arnaldo Cézar Coelho e José Roberto Wright, por exemplo.
José Roberto Wright (Reprodução / Web)Antes de atuar como comentarista da Globo, Wright ganhou a atenção dos holofotes por uma grande polêmica: ele apitou uma decisão de campeonato com um microfone escondido.
Uma pauta bomba
Em 1982, os jornalistas Fernando Guimarães e Luiz Antônio Nascimento tiveram uma ideia para uma matéria no Esporte Espetacular: colocar no juiz um microfone sem fio, para que os telespectadores vissem e ouvissem a tensão que o árbitro e os jogadores passam em uma partida decisiva.
Foram dois dias para Wright aceitar o convite e “vestir” o microfone no campo. Para o árbitro, era importante mostrar o seu trabalho.
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“Eu aceitei para mostrar como é difícil o trabalho de um árbitro dentro de campo, e não com má intenção. Mas como isso aconteceu bem na final da Taça Guanabara, houve toda aquela repercussão e ganhou uma dimensão maior”, disse o juiz ao UOL em 23 de setembro de 2017.
Olhos e ouvidos no campo
Por debaixo da camisa preta de juiz, ele colocou um colete com o microfone sem fio rente ao corpo e entrou em campo para comandar Vasco x Flamengo, que decidiam a Taça Guanabara de 1982.
Pela primeira vez, o telespectador pôde ouvir as falas de um árbitro em campo: as broncas que ele dava nos jogadores, gritos para que o jogo continuasse, o pedido para que um atleta não desse opinião sobre suas decisões e as ameaças de um cartão vermelho caso o jogador voltasse a marcar uma falta dura.
O Flamengo ganhou do Vasco por 1 a 0 e levantou a taça. Tudo parecia seguir tranquilo, mas havia um porém: os jogadores não sabiam que Wright estava com um microfone escondido.
O Jornal do Brasil criou a expressão “Watergate no futebol”, usando o nome da operação que derrubou o presidente americano Richard Nixon em 1974. O Vasco entrou com uma liminar no tribunal desportivo do Rio de Janeiro e o Flamengo pensou em processar a emissora, pedindo mais de 4 milhões de cruzeiros por uso da imagem.
“Nós fomos usados”
Roberto Dinamite, um dos ídolos do Vasco, disse em matéria do Esporte Espetacular, em 2012, que o microfone escondido foi um grande erro.
“Foi lamentável, foi muito ruim, porque, no meu modo de ver, a coisa foi direcionada. O Vasco foi o maior prejudicado com isso. Naquele momento, nós fomos usados e isso não foi certo”, desabafou.
Após os protestos dos times, Wright tomou uma suspensão de 40 dias fora dos gramados. Mas, segundo ele, foi menos que isso.
“O julgamento na federação carioca foi político, mas recorri na CBF e lá ganhei de 7 a 0, porque não havia nada na lei que impedia o uso do microfone. Nem fiquei os 40 dias suspenso”, afirmou.
O ponto da discórdia
Outra polêmica parecida ocorreu em 2001, envolvendo técnico e jogador. Durante o segundo jogo da semifinal do Paulistão, entre Santos e Corinthians, as câmeras filmaram o jogador corintiano Ricardinho com um ponto eletrônico no ouvido.
O técnico Vanderlei Luxemburgo, por meio de um rádio, passava as instruções para o jogador, dando orientações sobre marcações e estratégias de jogo.
“Foi ideia do Vanderlei Luxemburgo (…) A orientação e o combinado era o Vanderlei só falar com a gente (o goleiro Maurício também usou o ponto) quando a bola estivesse parada: ‘Avisa o pessoal pra atacar a bola’, ‘Vamos fazer a linha de marcação’, ‘Atenção com a bola no segundo pau deles’, ‘Atenção, o meia deles toda hora está entrando na nossa defesa’, entendeu?”, contou Ricardinho ao Esporte Espetacular em 2019.
O Corinthians venceu o Santos por 2 a 1 e levou o título Paulista em cima do Botafogo de Ribeirão Preto. Já o ponto eletrônico nunca mais foi usado.