Demissão e mais: ídolo da Seleção sofreu preconceito por ter filha trans
28/07/2023 às 17h22
Craque do Atlético Mineiro e do São Paulo, Toninho Cerezo acredita ter sido demitido do Sport em 2010 por preconceito contra sua filha, Lea T, modelo transexual. Se no dia a dia pessoas trans são excluídas do convívio social, no futebol – que é um reflexo da sociedade – não é diferente.
Lea T (Reprodução / Web)Muitos torcedores e profissionais envolvidos no meio acreditam que o futebol é um mundo à parte, que dentro das quatro linhas pode tudo, quando não passa de um preconceito enrustido contra todas as minorias.
Em entrevista ao UOL em 17 de março de 2021, o ídolo da Seleção Brasileira contou diversas histórias sobre a sua carreira como jogador e treinador. Na conversa, Cerezo abordou o tema envolvendo a filha.
“Na época, para o mundo do futebol, você precisava ver. Eu estava treinando um time, acho que era o Sport, e eu tenho quase certeza que eles me mandaram embora por causa disso. Eu acho que foi, espero que não, espero que eu esteja errado”, disse o ex-volante.
Procurado pela reportagem na época, o cartola do Sport ,Gustavo Dubeux, negou a acusação.
LEIA TAMBÉM:
● Ídolo do Flamengo tentou de tudo, mas perdeu luta contra câncer terminal
● Pavor: astro tinha que ser dopado para conseguir andar de avião
● Antes do VAR: juiz se deu mal ao expulsar jogador errado do Corinthians
“Não teve a ver. Acho que houve algum engano, pois não foi falado nada sobre a filha de Cerezo no Sport”, contou.
Quem é Lea T?
Lea T um dia foi Leandro Cerezo que, aos 13 anos, começou a se entender como mulher. Ela passou boa tarde da sua infância e juventude na Itália, país onde vive até hoje. Iniciou sua carreira como modelo em 2010 e ganhou notoriedade posando para Vogue Paris, Love, Elle, entre outras revistas renomadas.
No dia 27 de outubro de 2018, o UOL publicou uma entrevista com Lea, durante o desfile de 30 anos da Le Lis Blanc, em São Paulo. A modelo falou do medo de prejudicar seu pai por ser uma mulher transgênero.
“Tive medo por causa do futebol. Meu nome não foi Leandra Cerezo inicialmente, porque o Riccardo me ajudou, mas também porque eu não queria que falassem que eu era Cerezo. Eu tinha medo de que isso pudesse prejudicar a carreira do meu pai”, afirmou a modelo.
A filha de Cerezo também explicou a escolha de seu nome.
“Ficou Lea T por causa do meu amigo. Ficou o T, foi a mãe dele que me deu, uma pegada de família. Não voltou o Cerezo, mas é tudo um”, revelou sorrindo Lea T.
Aceitação
Lea T fez questão de ressaltar a aceitação e o carinho de seus pais, uma realidade totalmente diferente da maioria das pessoas trans.
Meu pai foi tão maravilhoso que, quando falaram isso [dele ser prejudicado na carreira por causa da filha] ele me ligou: ‘Lea, eu posso perder todo o trabalho do mundo, ir para rua, mas terei orgulho de ser seu pai e não quero que pense que sua felicidade tem que depender do meu trabalho’. Para o meu pai e minha mãe, a minha felicidade é a deles”, contou Lea.
A modelo é ciente do seu privilégio e quis devolver isso à comunidade de alguma forma. Em 2017, Lea foi escolhida para ser uma das embaixadoras da campanha “Eles Por Elas”, tradução do movimento “He For She”, da ONU Mulheres, que visa à igualdade de gênero e ao empoderamento feminino.
“Se uma mulher já sofre preconceito, imagina quem precisa lutar para ser reconhecida como mulher?”, indagou Lea T em seu vídeo para a campanha.