A história do futebol feminino se mistura à luta das mulheres para conquistar espaço, respeito e reconhecimento. Segundo a FIFA, a primeira partida de futebol disputada entre mulheres aconteceu em 1885, no vilarejo de Crouch End, ao norte de Londres (Inglaterra).

    futebol feminino

    Há relatos também de que a prática tenha surgido na China, entre 206 a.C. e 220 a.C., sob o nome de Tsu Chu. Num modelo mais próximo do que conhecemos, data de 1790, na Escócia.

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    No Brasil, os primeiros registros aconteceram na década de 20, em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, onde o que seria uma partida de futebol, nada mais era que um espetáculo circense. E isso se estendeu até meados da década de 40.

    Esporte clandestino

    Placa proibindo o futebol femino em 1941

    Nesta época, os jogos aconteciam nas periferias, até um dia chegar ao Pacaembu, o que gerou indignação da sociedade e logo um movimento de proibição da modalidade para mulheres, que se efetivou em 1941 sob o decreto-lei 3199, art. 54. Em linhas gerais, o documento afirmava que que as mulheres não deveriam praticar esportes que não fossem adequados a sua natureza. O futebol feminino, então, tornava-se clandestino.

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    Ainda assim, o Araguari Atlético Clube, em 1958, organizou um jogo beneficente onde 22 mulheres jogaram. Como tinha o cunho filantrópico, não houve problemas com a lei. O sucesso do evento foi capa da revista O Cruzeiro, o que fez o evento se prolongar por vários jogos e cidades de Minas Gerais e até outros estados, como Goiás e Bahia. Dado o sucesso, logo deram um jeito de acabar com o time, que foi desfeito em 1959.

    Para piorar, em 1965, no governo de Getúlio Vargas, o decreto foi republicado, especificando que a prática de futebol por mulheres era proibida. Entretanto, em 1967, Léa Campos tornou-se a primeira mulher com curso de arbitragem do Brasil. Uma brecha na lei permitiu o feito, mas o machismo e o preconceito a impediram de ir à formatura. Somente em 1979 o decreto foi derrubado.

    A proibição só caiu no papel. A sociedade não aceitava o futebol feminino e, assim, não tinha o apoio de clubes e/ou federações. Continuava sendo um simples passatempo. Mas, contrariando o status quo, o Esporte Clube Radar, time de Copacabana fundado em 1932, reuniu as melhores jogadoras do Rio de Janeiro e formou uma equipe, começando pelo futebol de areia (tradicional modalidade carioca) e logo chegou aos gramados, em 1981.

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    Regulamentação

    Futebol feminino

    Somente em 1983 o futebol feminino foi regulamentado, tendo então autorização para usar estádios, calendário próprio e inclusão na grade curricular de escolas. Nesta época, o Radar já se destacava, colecionando títulos, entre eles a Taça Brasil de Futebol Feminino da CBF, da qual foi hexacampeão. Conquistou também o Women’s Cup of Spain, o que seria a primeira tentativa de uma seleção brasileira de futebol feminino.

    Em 1988, a FIFA organizou o primeiro campeonato mundial de futebol feminino, em caráter experimental. O chamado Women’s Invitational Tournament aconteceu na China. Formou-se então a primeira Seleção Brasileira de Futebol Feminino, que contou (em sua maioria) com as jogadoras do Radar e do Juventus (SP), um dos melhores times do Brasil na época.

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    Seleção Brasileira de Futebol Feminino

    A situação era tão precária que nem uniforme as jogadoras tinham. Elas usaram as sobras do time masculino, dentre outros improvisos. Participaram 12 seleções e o Brasil levou o bronze, nos pênaltis.

    Copa do Mundo

    Seleção Brasileira Feminina Copa do Mundo 1991

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    Com a consolidação do futebol feminino, veio oficialmente a Copa do Mundo de Futebol Feminino, em 1991. A CBF assumiu o time oficialmente, mas a precariedade continuava. Sem uniforme e tempo para se preparar, a mulherada foi para a Copa “na raça”. Elane, zagueira, marcou o primeiro gol feminino em uma Copa do Mundo. Mesmo com todo esforço e dedicação, o Brasil perdeu logo na primeira fase.

    Mas valeu a experiência. O time seguiu treinando, já de olho nas Olimpíadas de 1996, nos EUA. Era a estreia do Brasil na modalidade. A seleção ficou em quarto lugar e começava a dar sinais de evolução, inclusive para o reconhecimento do esporte.

    Em 1999 (foto abaixo) a seleção fez bonito. Na Copa do Mundo, apesar de muitos obstáculos, a seleção jogou com garra, deu show e conquistou o terceiro lugar na edição americana. Sissi foi destaque, como uma das artilheiras do campeonato.

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    Em 2003, chegou aquela que fez a diferença no futebol brasileiro e mundial. Seis vezes eleita a melhor do mundo, ao lado de Messi, Cristiano Ronaldo e outras feras. Marta Vieira da Silva, alagoana de Dois Riachos, é recordista. Poucos são os futebolistas que conquistaram tantos títulos de forma consecutiva.

    Marta levou o futebol feminino brasileiro para outro patamar. Conquistou o Pan em 2003, nos EUA; a prata na Olímpiada da Grécia, em 2004; ouro, de goleada, no Pan do Rio, em 2007; vice-campeão na Copa de 2007, na China (vale ressaltar que foram duas grandes conquistas internacionais, no mesmo ano). Em 2008, veio a prata, na Olimpíada de Pequim. Em 2009, o Santos conquistou a Libertadores, tendo Marta e Cristiane no elenco, sendo Cristiane a artilheira da competição, com 15 gols. As Sereias da Vila encheram o Brasil de orgulho e conquistaram também a Copa do Brasil no mesmo ano.

    Em 2014, a seleção começa um trabalho mais sólido, sob o comando de Vadão, para se preparar para a Copa Feminina de 2015 e as Olimpíadas de 2016. Aqui, a Seleção Feminina já tinha conquistado a torcida brasileira. As meninas bateram um bolão e ganharam o Pan de 2015, no Canadá.

    Em casa, na edição brasileira das Olimpíadas de 2016, mesmo tendo atuações excelentes, o Brasil caiu, frente ao olhar de uma torcida ávida pela vitória. A direção do time foi trocada e Emily foi a nova técnica da seleção.

    O ano de 2019 marcou muitas conquistas para o futebol feminino. A CBF e CONMEBOL tornavam obrigatório que os clubes que quisessem disputar campeonatos masculinos, obrigatoriamente deveriam ter times femininos. Os clubes correm atrás para formar seus times e o futebol feminino ganhou seu espaço, inclusive nas mídias. A Globo transmitiu a Copa Feminina, pela primeira vez na história. Além das jogadoras ganharem espaço, as comentaristas e narradoras também chegaram para ficar. Segundo dados da FIFA, são mais de 30 milhões de mulheres jogando futebol no mundo.

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