Mais do que os convocados de Tite para defender a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da FIFA 2022. Inicialmente, são 46 nomes de imigrantes mortos no Catar estampados em figurinhas parecidas com a do famoso Álbum da Copa – o treinador brasileiro convocou 26 jogadores.
A iniciativa, idealizada pela plataforma jornalística Blankspot, dá visibilidade aos imigrantes que faleceram no país árabe desde que ele foi escolhido para sediar o campeonato mundial de seleções.
O projeto
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Intitulado Cards of Qatar, o projeto foi lançado há quatro meses e conta a história de trabalhadores de diversos países como Bangladesh, Nepal e Índia que nunca voltaram para casa.
De acordo com a plataforma, são milhares de mortos desde que o Catar foi eleito o anfitrião da Copa do Mundo e, embora apenas 46 tenham sido retratados em figurinhas até o momento, outros nomes surgirão em breve, mostrando a realidade por trás do glamour.
“Esses trabalhadores não são apenas estatísticas. Suas histórias precisam ser ouvidas”, disse Martin Schibbye, editor-chefe e cofundador da Blankspot.
Os cards são complementados por longas reportagens e entrevistas com jogadores, políticos e organizações de trabalhadores. Para isso, a plataforma contou com jornalistas locais dos países das vítimas, que entraram em contato com a família e com as viúvas para coletarem informações dos entes falecidos.
Mistério
Muito se tem falado sobre o número de mortes de trabalhadores no Catar. ONGs afirmam que milhares de trabalhadores imigrantes sofreram ou morreram durante sua permanência no país, que é fortemente criticado pelas condições desumanas de trabalho para pessoas estrangeiras.
As autoridades do Catar afirmam que os números são menores, mas existem mistérios em relação à morte de trabalhadores de hotéis, metrôs e das estradas que torcedores de todo o mundo estão percorrendo desde o dia 20 de novembro.
Os nomes
Tul Bahadur Gharti (foto acima), por exemplo, estampa uma das figurinhas do Card of Qatar. Nascido em 1986, faleceu na noite do dia 28 de maio de 2020, com 34 anos.
De acordo com o relatório médico, sua morte foi causada por insuficiência cardíaca aguda de causas naturais. O ponto é que o jovem nunca reclamou de sintomas e sua família duvida do diagnóstico.
Diante da dúvida, a esposa de Gharti pediu para que o corpo fosse autopsiado para revelar a causa da morte, pedido esse que nunca foi atendido pelas autoridades do Catar.
Assim como essa história, outras tantas semelhantes estampam as figurinhas, como a de Bolumalla Gangadhar.
Em 2019, quando passava férias em seu país natal, Índia, o homem de meia idade gritou de agonia no banheiro, onde faleceu vítima de um infarto.
Uma morte aparentemente normal – embora a família dissesse que ele era saudável e sem histórico médico – chama a atenção por outro motivo. Gangadhar nunca revelou à família o que fazia no Qatar, apenas desencorajava quem quisesse seguir seus passos:
“Não venha para cá. Você não sabe como é aqui e também não vai querer saber”, dizia.