Na Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, o experiente narrador Luis Roberto criou um bordão que viralizou instantaneamente nas redes sociais. Mas, se alguns acharam engraçada a expressão espontânea do narrador da Globo, parte do público julgou a fala racista.

    Luis Roberto
    Luis Roberto (Reprodução / Globo)

    Foi no duelo entre Suíça e França que o narrador soltou: “Esses negros maravilhosos, que saem tabelando, tocando”. Na oportunidade, a Seleção Francesa goleava o adversário por 5 a 0.

    Deu tempo dos suíços marcarem dois gols, mas esse detalhe quase ninguém lembra, pelo menos aqui no Brasil. O único assunto possível era o bordão do global, em TV aberta, para milhões de pessoas.

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    Aquele dia 20 de junho ficou marcado na história do narrador. Em longa entrevista ao UOL, em 1 de novembro de 2022, o principal locutor da emissora carioca relembrou o ocorrido:

    “Eu perguntei se ele tinha sido entendido com um viés racista. Iria pedir desculpas na hora. Na minha família, eu cresci com um posicionamento antirracista dos meus pais. E meu pai sempre foi de futebol e foi um cara que me ensinou que esse mundo é inclusivo e diverso”, explicou Luis Roberto.

    Saiu do armário?

    Gustavo Villani e Luis Roberto
    Gustavo Villani e Luis Roberto (Reprodução / Web)

    Preocupado se sua fala havia soado racista, o narrador entrou em contato com seu diretor, já pensando em um possível pedido de desculpas. Foi quando ouviu algo inusitado.

    Na verdade, a pauta nas redes sociais não era essa, e sim, qual a orientação sexual de Luis Roberto. Após ser informado por seu superior, o comunicador ficou mais tranquilo.

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    “Ah, é isso? Então tudo bem, porque isso é de cada um. Deixe que falem”, relembrou o atual número 1 da Globo.

    Perguntado se havia se preparado para soltar o bordão, Luis disse que não foi algo planejado, veio “do fundo da alma”.

    “No fim das contas, eu não fui repreendido em nenhum momento. A frase veio na hora, eu não me preparei, sabia dessa frase. Sou daqueles que não se prepara muito nesse sentido de escolher algumas expressões para o caso de acontecer determinadas coisas dentro do jogo. Eu gosto que aflore, que venha do fundo da alma”, explicou.

    Tá liberado

    Narrador Luis Roberto, da Globo
    Narrador Luis Roberto (Divulgação / Globo)

    Luis Roberto voltou a utilizar o bordão, desta vez na Copa do Mundo no Catar, durante a semifinal entre Marrocos e França.

    A internet foi à loucura com o resgate da expressão que até hoje gera muitos memes. Mas uma figura especial na vida do locutor foi o combustível e serviu de inspiração para soltar o bordão: foi Seu Afonso, pai de Luis Roberto, que admirava um time formado predominantemente por negros e que encantou o mundo com seu futebol.

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    “Embora meu pai não fosse santista, ele tinha um encantamento com o Santos e quando o time jogava, principalmente no Pacaembu, porque morávamos em São Paulo, ele tratava o ataque como ‘os negros maravilhosos vestidos de branco’. Quase todos eram negros. Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé. Só Seu Pepe que era branco. Foi o melhor ataque de todos os tempos, nunca mais vai aparecer outro”, contou o narrador.

    O pai veio à mente quando Luis transmitia o show da França em cima da Suíça e, impulsionado pela saudade, o narrador encaixou a frase que veio no momento.

    “Quando veio 2014, eu resolvi usar essa expressão. Talvez, foi o grau de saudade do meu pai, que morreu em 2010. A minha maior emoção em Copas do Mundo foi em 1990, na Itália, quando eu consegui ligar para ele lá do Estádio Olímpico de Roma. Nem existia celular na época, eram uns telefones nas bancadas. Então, de fixo para fixo, nós ficamos emocionados juntos, ele chorando do outro lado, porque era um sonho estar numa Copa”, explicou Luis Roberto.

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