Astro da TV se recusava a trabalhar com ex-jogadores: “Malandros”
31/08/2023 às 17h57
Juarez Soares Moreira, o famoso China, foi um dos cronistas esportivos mais relevantes desde a década de 70. No jornalismo, atuou como narrador, repórter, comentarista e editor-chefe.
Juarez Soares e Luciano do Valle (Reprodução / Web)De personalidade forte, China nunca deixou de dar sua opinião contundente nos debates futebolísticos. Militante da profissão, Juarez Soares era contra ceder espaço fixo nas bancadas para ex-jogadores.
China trabalhava na Rádio Transamérica de São Paulo quando concedeu uma entrevista ao UOL Esporte, em 22 de março de 2013. O jornalista revelou que não tinha vontade de retornar à TV aberta – meses depois, ele fechou com a RedeTV!.
“As pessoas hoje dão mais importância para a TV do que para o rádio. Todo mundo que me encontra pergunta se não vou voltar para a TV. Eles acham que ela é mais importante, mais popular. Pra alguns profissionais pesa isso, mas pra mim a dose de vaidade já foi preenchida na TV. Dou pouco valor a isso, o que eu quero é o que tenho hoje”, salientou China.
“Os ex-jogadores malandros são ricos”
Questionado sobre os ex-jogadores que atuam como comentaristas esportivos, China foi taxativo em sua resposta. O jornalista afirmou que os boleiros estão na TV aberta apenas para atender compromissos comerciais.
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“Os ex-jogadores malandros são ricos e ocupam lugar de jornalistas sem ter noção do que é ser um jornalista. São mais malandros ainda porque dão opinião como a empresa quer, sem contestar nada”, declarou Juarez Soarez.
“Olha a água de salsicha do Caio (Ribeiro) que falar ou não falar não dá em nada. Uma coisa é ter popularidade, que o Neto tem, por exemplo, por ser um ex-jogador do Corinthians. Outra é sua opinião valer de alguma coisa”, completou.
De volta às telinhas
A televisão aberta não estava nos planos do jornalista. Contudo, com a promessa de liberdade de expressão sem ter sua opinião cerceada, China retornou à rede aberta ao lado dos seus parceiros, Silvio Luiz e Luiz Ceará.
A atração intitulada Bola Dividida ocuparia a faixa de horário do almoço, a mesma que o consagrado Jogo Aberto, da Band. Diferente dos demais debates, o programa não contaria com um ex-jogador na bancada fixa.
“Sou contra jogador comentar do lado de jornalista, sou contra. Falei isso ao presidente do sindicato [dos jornalistas] que não apoio, a não ser seja formado. O Osmar de Oliveira [comentarista da TV Bandeirantes] é médico e corintiano doente. Mas ele se formou jornalista e pode exercer essa função. Sou contra alguém ocupar posição de jornalista sem ser”, explicou China ao UOL dia 25 de abril de 2013.
Contudo, ele não fechou as portas para os profissionais da bola, que só participariam como convidados pontuais.
“Para ir num programa como convidado, tudo bem. Pode ser que a gente convide jogador para o nosso programa, mesmo que não seja um jogador atual. Mas não significa que vai ter cadeira cativa lá. Só vai se for como convidado”, reforçou China.
Eterno China
Juarez Soares faleceu no dia 23 de julho de 2019, após sofrer uma parada cardíaca. Aos 78 anos, China lutava contra um câncer de cólon.
O jornalista estava em casa, em São Paulo, quando foi levado à Santa Casa. No hospital, foram realizadas manobras de reanimação, sem sucesso.
China deu seus primeiros passos no jornalismo em 1958, aos 17 anos, na Rádio Cultura de Lorena, interior de São Paulo, onde transmitia jogos do campeonato da Segunda Divisão.
De 1961 até 1974, o jornalista passou pelas rádios Tupi, Gazeta e Globo – nessa última transmitiu a Copa do Mundo de 74, na Alemanha Ocidental. No mesmo ano, migrou para a TV Globo.
Após cobrir diversos mundiais e Jogos Olímpicos, além de participar dos primeiros anos do telejornal Bom Dia, São Paulo, o veterano deixou a Globo em 1982 para trabalhar ao lado de Luciano do Valle na Bandeirantes.
Com passagens por Record, SBT e RedeTV!, além da Rádio Transamérica, China conquistou respeito no jornalismo devido seu amor pela profissão.