Após sofrer humilhação, goleiro ganha processo contra a Globo

Denis e Sidão no São Paulo

Em outubro último, o Goleiro Sidão voltou a ser notícia. Mas não foi por nenhuma defesa milagrosa ou por uma falha grotesca. Foi por vencer a primeira etapa de um processo contra a toda-poderosa Globo, por danos morais.

O jogador, hoje com 39 anos, defende o time Atlético Catarinense, mas passou por uma situação vexatória quando jogava no Vasco.

Entenda o caso com a Globo

LEIA TAMBÉM!

Em 2019, a Globo tinha um quadro chamado Craque do Jogo, onde, por votação dos internautas, elegia-se o melhor jogador de uma partida, que recebia um troféu coroando sua vitória.

Sidão atuava pelo Vasco e vinha fazendo uma boa campanha, mas numa partida contra o Santos, uma sucessão de erros levou sua equipe a perder por 3 a 0. Revoltados, internautas votaram, em massa, para que o goleiro fosse eleito, ironicamente, como o Craque do Jogo. Uma retaliação pela sua atuação.

Dado o objetivo dos votos, infelizmente, Sidão ganhou como craque da partida e a emissora, por sua vez, tinha de cumprir o protocolo e a vontade dos telespectadores, fazendo com que ele recebesse o troféu, ao vivo, logo no final da partida. Envergonhado pela sua atuação, o jogador recebeu, surpreso, o prêmio. Cabisbaixo, mas cortês, atendeu ao jornalista e reconheceu o mal desempenho, ainda assim, agradeceu a irônica votação.

Ficha caindo…

O jogador só viu a repercussão toda do episódio quando chegou no vestiário e, depois, quando foi para o ônibus, Sidão começou a mexer no celular e viu o os desdobramentos do episódio.

“Eu fui desabar assim, quando eu vi alguns depoimentos da família, como meu pai. Aí eu fiquei chateado mesmo e cheguei a chorar. Por ver que não afetava só a mim. Eu aguento, tem torcida no estádio, várias coisas que vêm sobre nós atletas. Mas quando afeta seus familiares, as pessoas que te amam, prejudica bastante. O momento que mais senti foi quando eu vi a mensagem do meu pai. Ele questionando por que tinham feito isso comigo. Meu pai, as pessoas que convivem comigo conhecem o ser humano Sidão. É um cara do bem, que não pensa em fazer mal para o próximo. Mas faz parte da vida. Foi essa questão que mais me deixou chateado”, relatou em entrevista ao UOL Esporte.

Até a última instância

Com o ocorrido, Sidão moveu uma ação contra a emissora, alegando danos morais por ter recebido o troféu por deboche e num momento de fragilidade. No processo, o jogador pediu indenização de R$ 1 milhão, mas o juiz responsável deferiu o pagamento de R$ 30 mil ao jogador.

Marcelo Giraldes, advogado que representa o goleiro, não concorda com o valor estipulado, alegando que o valor é muito baixo frente ao poder aquisitivo da Globo e os danos sofridos pelo jogador. Ele considera que o mínimo a ser pago deveria ser R$ 100 mil.

Para o juiz, a Globo poderia ter apenas comunicado o resultado da enquete ao jogador, ao invés de fazer toda uma “cena” e entregar o troféu. 

“Evidente que entregar o troféu ultrapassaria o limite da mais ácida crítica ao desempenho profissional do autor. Nada impedia a ré de anunciar o resultado da enquete com os torcedores. Estaria cumprindo seu dever de informar. Mas a ré foi além, e fez a entrega do troféu, incorrendo em evidente exercício abusivo de direito, sendo despropositado sustentar que o autor [Sidão] que estava trabalhando, e não se divertindo com amigos em partida de futebol, deveria receber o fato com bom humor (…). Todos os meios para obstar a humilhação pública a que foi exposto o autor com a entrega do irônico troféu, mas optou por pedir a uma repórter que comunicasse o resultado da votação em uma entrevista ao vivo com o goleiro”, apontou o juiz.

Apesar do veredito em favor de Sidão, o juiz não concordou com a quantia solicitada.

“Não poderá ser fonte de enriquecimento injustificado da vítima (Sidão), nem haverá de ser inexpressivo, incapaz de atingir sua finalidade que é a de retribuir o mal causado”, aponta o juiz em outra parte da sentença.

Carreira, consequências e futuro

Sidão teve passagens por Botafogo, São Paulo, Goiás, Vasco e Figueirense. Migrou para o futebol catarinense, jogando pelo Concórdia e, mais recentemente, pelo Atlético Catarinense, atual vice-campeão estadual e que irá receber um investimento do ídolo vascaíno, Romário.

Após o episódio ocorrido quando estava no Vasco, Sidão se diz prejudicado, principalmente psicologicamente.

“Foi algo muito ruim para mim, em todos os aspectos. Não só profissional, como pessoal, psicológico. O que eu vivo hoje, profissionalmente, se deve muito a esse ocorrido. Me prejudicou muito em sequência de carreira. Acho que fiquei rotulado de uma maneira bem negativa, e por onde eu passei eu tenho bons números, boas apresentações. Mas ninguém lembra disso quando sou contratado, só lembram desse episódio, desse rótulo”, desabafou na mesma entrevista.

“O que eu tenho vivido ultimamente é muito parecido com o que vivi no começo da carreira: clubes menores, estruturas menores, mas com muito brilho nos olhos, da minha parte e dos outros atletas que tenho encontrado. E eu poder ter vestido a camisa de grandes clubes, jogado em grandes estádios e competições, enfrentado grandes adversários e atuado com grandes nomes é algo que me deixa muito feliz, eu sonho em voltar a vestir as grandes camisas” revelou o goleiro em entrevista ao portal Lance!.

Quem sabe ele consegue realizar este sonho já em 2023? De acordo com o UOL Esporte, Sidão está em contato com clubes de São Paulo e Minas Gerais para jogar um estadual de elite na próxima temporada.

Autor(a):

Sair da versão mobile