Fins de carreira podem ser melancólicos, mas para Bruno Rodriguez sua vida se tornou dramática após largar os gramados. O francês teve que amputar a perna direita por não suportar as dores causadas pelas infiltrações que tomou quando estava na ativa.
Bruno Rodriguez no PSG (Reprodução / Web)Revelado pelo Mônaco, o ex-atacante de 50 anos se destacou em outro grande clube do país: o PSG. Embora não tenha atingido o patamar que sempre desejou, Bruno ficou marcado na história do clube pelo seu jeito irreverente e explosivo dentro dos gramados.
Foi dele um gol decisivo contra o maior rival, Olympique de Marselha, em 1999, que acabou com o jejum de 10 anos sem vencer o adversário no Campeonato Francês.
Infiltrações
As famosas infiltrações, que tanto ouvimos falar no mundo do futebol, são necessárias para aliviar as dores dos atletas e evitar que eles fiquem de fora dos jogos.
O procedimento, que consiste na aplicação de injeções com medicamentos – corticoide e anestésico – para aplacar as dores, pode ser prejudicial se utilizado em excesso. E foi o que aconteceu com Bruno Rodriguez.
As incontáveis infiltrações na carreira do jogador foram necessárias para aliviar as dores na entorse do tornozelo direito. Durante a vida, Bruno fez 12 operações e a dor física acabou desenvolvendo uma depressão no ex-atleta.
Consciente do que aconteceu, Rodriguez decidiu amputar a perna que um dia lhe deu muitas alegrias. Junto da esposa – que sempre esteve ao seu lado – o ex-atacante decidiu que era hora de dar um fim às dores e começar um novo capítulo.
História
Filho de pai espanhol e mãe francesa, Bruno Rodriguez cresceu em Bastia, na Córsega. Foi na cidade que o jovem começou a jogar futebol com uma vista privilegiada para o mar mediterrâneo.
Aos 15 anos, deixou o lar dos pais e foi para Mônaco atrás do seu sonho. Foi nessa época que os problemas com lesões começaram, quando ainda era atleta da base. Bruno teve que se submeter a duas cirurgias, uma para refazer a articulação e outra para remover parte da cartilagem um ano depois.
“Gostava de partir pra cima e as pessoas não gostavam, um adversário me deu uma entrada dura que fraturou meu tornozelo”, revelou Bruno ao The Times em 20 de abril de 2023.
Desde então, o atacante começou a receber infiltrações a fim de suportar as dores. Naquela altura, o jogador parecia não se importar, pois estava realizando seu sonho. Aos 19 anos, já dividia o vestiário com Klinsmann, Djorkaeff, Thuram e Emmanuel Petit.
Porém, mesmo com o esforço de Bruno, Arsène Wenger optou por outro atleta da base para compor o elenco principal – na época, somente um jogador poderia subir ao profissional.
O atacante passou por dois clubes antes de chegar pela primeira vez no PSG, em 1999. Contudo, a passagem durou pouco por conta de uma briga com o técnico, que fez Bruno ir para a Inglaterra. Retornou à França em 2000 e, no ano seguinte jogou no Rayo Vallecano. Depois, em 2002, o jogador voltou de vez para o seu país onde ficou rodando até se aposentar, em 2005.
Missão de vida
Hoje Bruno entendeu sua missão após a decisão de retirar sua perna direita e perceber o quão mal fez ter que se sujeitar a cirurgias e infiltrações enquanto jogador.
“Em todos os clubes em que eu passei, tomei injeções. Acontece muito no futebol, é verdade, e há pouca informação sobre isso, embora todos saibam o que acontece. Me deram infiltrações para poder jogar. Se me dissessem que fazia mal à saúde, teria dito que não. Mas eu não sou médico, era jovem e queria jogar porque sou competitivo”, disse ao The Times dia 20 de abril de 2023.
A missão do ex-atleta é conscientizar todos os jogadores do mal que a prática das infiltrações faz para a vida a longo prazo.
“Quantos ex-jogadores existem com problemas nos joelhos, nos tornozelos, nas costas, no pescoço? Quantos aos 60 ou 70 anos estão incapazes de fazer coisas como andar ou se levantarem sozinhos? Os jogadores devem ser respeitados enquanto pessoas, não tratados como pedaços de carne”, finalizou Bruno The Times dia 20 de abril de 2023.
No jogo entre PSG e Ajaccio pelo Campeonato Francês da última temporada, Bruno Rodriguez entrou no Parque dos Príncipes para dar o pontapé inicial de bermuda preta, para que todos olhassem sua prótese. Com abraço de Messi e o carinho de Mbappe, o ex-atacante deixou o campo ovacionado.