Antes do VAR: juiz se deu mal ao expulsar jogador errado do Corinthians
03/09/2023 às 9h16
A vida antes do VAR era dura para muitos árbitros. Ainda que a tecnologia cause muita raiva e rejeição para boa parte do público, a inovação tem evitado muitos deslizes das equipes de arbitragem.
Thiago Duarte Peixoto (César Greco / Agência Palmeiras)No clássico entre Corinthians e Palmeiras, em 2017, o juiz Thiago Duarte Peixoto expulsou erroneamente o volante corintiano Gabriel. No lance, quem parou Keno foi Maycon, puxando a camisa do atacante palmeirense.
O juiz se confundiu e mandou Gabriel para fora de campo. Nem a confissão de Maycon foi suficiente para Thiago reconsiderar a expulsão.
Em depoimento ao Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo, Thiago Duarte Peixoto revelou que nenhum dos seus auxiliares, nem o quarto árbitro o avisaram que Gabriel havia puxado Keno.
Punido
Julgado pelo TJD, o árbitro pegou um gancho de 60 dias após o erro crasso no Derby. A instituição também anulou os cartões amarelo e vermelho atribuídos ao volante corintiano.
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Mesmo afirmando que ninguém da equipe havia lhe auxiliado, o TJD exibiu imagens que mostram o quarto árbitro dizendo a Thiago que Gabriel não havia cometido a falta. Contudo, o juiz da partida alegou que seu colega se referia ao carrinho do zagueiro Pablo, na sequência do lance.
“Em nenhum momento alguém chegou para mim e disse que não foi o Gabriel. Se falasse, eu poderia voltar atrás ou não. Assumo que foi um erro. Não é um problema para mim (assumir). Em nenhum momento quis isso”, declarou Thiago na sede da Federação Paulista de Futebol.
Thiago vivia um momento de ascensão na carreira e chegou a comandar uma semifinal no Maracanã, válida pela Copa do Brasil.
https://www.youtube.com/watch?v=pwRCiFIBBzI
Fama de arrogante
A seriedade do jovem árbitro durante a condução dos jogos era constantemente transformada em arrogância, segundo os jogadores e técnicos com quem Thiago dividiu o campo.
Muitas foram as reclamações sobre como ele tratava os atletas, com um ar de superioridade, tentando de alguma forma trazer o protagonismo para si. Em longa entrevista ao UOL no dia 5 de dezembro de 2018, o paulista abriu seu coração.
Entre vários assuntos, Thiago falou sobre o erro histórico no clássico, a entrevista pós-jogo e a perda da esposa.
Quebrando o protocolo
Diferente de seus colegas de profissão quando cometem um erro, Thiago deu as caras e solicitou uma entrevista para se explicar. Segundo o paulista, ele não se arrepende de ter convocado uma coletiva.
“Aquela emoção que rolou não foi de caso pensado. Ninguém fala: ‘agora eu vou lacrimejar’. Só ator consegue. Foi um desabafo. Eu precisava colocar para fora ou ia me dar um treco”, contou o árbitro.
Punição decretada, Thiago Duarte Peixoto decidiu viajar para espairecer a cabeça. O destino foi o Peru. Entre trilhas e montanhas, o paulista confidenciou: “Tem uma coisa mística lá”.
Chegando ao Brasil, começou um tratamento psicológico em sessões semanais com uma profissional da Federação Paulista de Futebol.
“A entidade e a comissão de arbitragem me deram todo o respaldo possível no momento, me senti até lisonjeado. A confiança não pode se esgotar em um lance, e eles se preocuparam com o ser humano. Sou grato. A vida é um aprendizado, estou aqui para aprender eternamente. Quem sabe, dentro de campo, eu possa dar a resposta de que isso tudo foi benéfico”, declarou Thiago.
Perda da esposa
Thiago perdeu a esposa Gabriela em 2016, com quem teve o filho Gael. O árbitro contou como conheceu sua companheira.
“Nós nos conhecemos na academia, ela era a minha chefe. A gente se conheceu e se apaixonou e teve uma vida em comum juntos (…) Ela ficou grávida do Gael e a gente fez uma viagem para fora do país e ela voltou e começou a se sentir mal, ela tava com seis meses de gestação”, iniciou Thiago.
O juiz continuou a história dizendo que, ao chegar no hospital, foi detectado uma pneumonia fraca em Gabriela.
“Fizeram os exames e apontou uma pneumonia fraca, mas por estar grávida ela entrou no hospital e de noite já estava tomado todo o pulmão dela. Aí fez a cesária do Gael para tentar salvar a vida da Gabriela”, revelou Thiago.
De acordo com Thiago Duarte Peixoto, os médicos disseram que o procedimento tinha um risco e o bebê poderia não sobreviver, mas que era o certo a se fazer. Após 10 dias como pai, o paulista perdeu a esposa em decorrência da H1N1.
“Foi um momento muito difícil da minha vida. Eu consegui voltar a apitar depois, mas aí a gente vê também que o homem vem antes do árbitro”, finalizou.