Numa época em que as redes sociais ainda engatinhavam, um acontecimento chamou a atenção de quem virava as noites assistindo aos jogos da Copa do Mundo de 2002.

    Galvão Bueno e Sérgio Noronha
    Galvão Bueno e Sérgio Noronha (Reprodução / Globo)

    O primeiro Mundial com sede dupla, Japão e Coreia do Sul, ficou marcado pelo fuso horário totalmente ao contrário em relação ao brasileiro. As famílias se reuniam durante a madrugada para ver a Seleção Brasileira jogar.

    Além dos gols de Ronaldo e Rivaldo, uma cena que ficou eternizada na televisão brasileira foi o cochilo do comentarista Sérgio Noronha. Ao ser chamado por Luís Roberto, durante o programa da Copa, Seu Nonô, como era carinhosamente conhecido, foi flagrado cochilando ao vivo (veja o vídeo abaixo).

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    Em entrevista ao UOL no dia 13 de novembro de 2013, o veterano falou sobre o acontecimento.

    “Não lembro, mas não estou dizendo que não aconteceu. Pode ter acontecido. Sabe o que é? Esses trabalhos de madrugada mudam sua rotina de repente, você não passa por um processo de adaptação, surge um evento e você precisa mudar a hora de dormir, de comer, de fazer a barba, de acordar”, contou Noronha.

    Contra a ditadura

    Sérgio Noronha
    Sérgio Noronha (Reprodução / Web)

    Sérgio Noronha iniciou sua trajetória no jornalismo na década de 50. Desde então, ele exerceu todas as funções, de estagiário a chefe de redação, passando por repórter e editor.

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    Carioca com orgulho, o veterano viu e fez de tudo na profissão, mas um dos momentos mais delicados da sua carreira profissional foi encarar a censura da ditadura militar.

    Na época secretário de redação do Jornal Brasil, o jornalista conviveu diariamente com militares armados dentro do jornal, que fiscalizavam a tiragem antes da impressão.

    “O jornal era ativo na briga contra a ditadura. E ficavam os censores dentro do jornal, todos uniformizados, eles tinham que ler o jornal antes ir para a gráfica. Na queda do Salvador Allende (presidente chileno que foi deposto por um golpe de estado em 1973), o coronel falou que era proibido dar na manchete. Demos a capa só em texto e sem título. Mas chamou muito mais atenção. No dia seguinte chegaram lá armados com pistola”, revelou Noronha.

    Porém, mesmo com inúmeras dificuldades no caminho, Noronha nunca deixou de demonstrar sua paixão pelo ofício.

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    Bom amigo

    Sérgio Noronha e Arnaldo Cézar Coelho
    Sérgio Noronha e Arnaldo Cézar Coelho

    A demissão da Globo em 2011 mexeu com sua rotina, pois Noronha estava acostumado a ter uma vida ativa e, de um dia para o outro, já não podia mais exercer a profissão que tanto amava.

    Quatro anos depois, em 2015, o jornalista começou a apresentar sinais de Mal de Alzheimer, além de uma retenção de líquido na bexiga. Esses fatos acabaram afetando a sua saúde mental, segundo relatou uma amiga, Marcia Miranda.

    “Quando ele foi mandado embora da Globo, foi caindo, porque ele não se conformava com aquilo. Ele me disse: ‘Pô, Marcinha, vê se pode um negócio desse, me tirar para colocar estes rapazotes novos que trabalham de tênis e calça jeans. Eu ia de terno’”, afirmou Marcia ao UOL.

    Sem dinheiro e sem emprego, um velho amigo foi acionado para ajudá-lo nesse período delicado.

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    “Um dia me procuraram: ‘Ó, Arnaldo, aconteceu isso e isso, acabou o dinheiro’. Eu sou muito amigo dele, ele está com Alzheimer e o Sergio me conhecia na praia quando eu comecei. Aí eu falei com o Stepan Nercessian, presidente do Retiro dos Artistas, para ele conhecer o Noronha. Pegamos uma casa numa vila lá. Eu reformei a casa toda, com ar-condicionado, geladeira. Aí todo mês eu ajudo, porque ele não tem família para ajudar”, declarou Arnaldo Cezar Coelho na ocasião.

    Sérgio Noronha faleceu em 24 de janeiro de 2020, aos 87 anos, em decorrência de uma parada cardíaca. O jornalista estava internado havia 10 dias no Hospital Rio Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro.

    Com passagens em rádio, revistas, jornais e televisões, Noronha deixou como legado o profissionalismo e o respeito pelo jornalismo.

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