Espião argentino: relembre quem foi o goleiro do milésimo gol de Pelé
30/12/2022 às 8h43
Nascido em Rosário, interior da Argentina, Edgardo Norberto Andrada, o famoso El Gato, morreu aos 80 anos, em sua cidade natal, em 2019. Apesar da morte, a lembrança sobre sua história está bem viva na memória de brasileiros e argentinos.
Sua carreira começou em 1960, no Rosario Central, e já em 1963 defendeu a Seleção Argentina na Copa América da Bolívia. Foi pré-relacionado para o Mundial de 1966, na Inglaterra, mas acabou cortado devido a uma lesão.
Em 1969, veio defender o Vasco, mudando-se para o Brasil. No cruzmaltino, Andrada teve o melhor e pior momento de sua carreira. O melhor, pois acumulou títulos coletivos e individuais. O pior, foi já na sua chegada, no Maracanã, frente ao Santos.
Seu algoz era ninguém menos que Pelé, que neste fatídico jogo estava prestes a marcar o milésimo gol de sua carreira. Era o famoso ditado: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, pois se Andrada defendesse, ele seria odiado pela torcida, mas teria a fama de ter atrasado o milésimo gol (mais uma vez). Se ele erra, seria eternamente lembrado por ser o goleiro que levou o milésimo gol.
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“E pimba na gorduchinha…”
Um pênalti a favor do Santos, aos 33 minutos do segundo tempo, colocou Pelé e Andrada frente a frente, num duelo, como no velho oeste. Apenas os dois, com suas “armas à postos”, ignorando todos à sua volta, mesmo tendo um coro uníssono e ensurdecedor bradando “Pelé, Pelé, Pelé”…
Pelé chutou. Andrada pulou para o mesmo lado, tocou na bola, mas, ainda assim, o gol veio. A torcida (dentro e fora do estádio) enlouqueceu e o temor de Andrada virou realidade: tornou-se o “goleiro do rei” ou o “arqueiro mil”. Sofreu o milésimo gol do Rei do Futebol.
“Pelé cobrou. Eu bati na bola, mas não consegui defender. Depois, com o tempo, as coisas foram mudando. Eu me acostumei com o fato e hoje convivo de uma forma muito gostosa com aquele milésimo gol”, conforma-se Edgardo Andrada.
Vida que segue
Mesmo com essa “mancha” em sua trajetória, Andrada seguiu uma carreira de sucesso no Vasco. Venceu o Campeonato Carioca de 1970 e o Campeonato Brasileiro de 1974. No ano seguinte, foi para o Vitória, da Bahia.
Apenas dois anos depois, o goleiro voltou para seu país, para defender o Colón (1977-1979) e o Renato Cesarini, onde permaneceu até 1982, aposentando-se dos gramados.
Quando pendurou as chuteiras, Andrada foi para a Secretaria de Inteligência Argentina durante a ditadura militar do país, responsável pelo desaparecimento de mais de 30 mil pessoas.
É mais um caso de futebolista envolvido com a perseguição militar. Vale ressaltar, que em 1981, Andrada tinha uma dupla identidade. Era goleiro e agente secreto C-3 para o Serviço de Inteligência de Rosario.
“Sua figura de goleiro do Rosario Central atrai adesões e confiança, especialmente nos bairros operários, o que facilita sua penetração para objetivo traçado”, escreveram seus superiores à época, conforme matéria do Correio do Povo, em 2019.
Defensor do indefensável
Em 2008, Andrada foi acusado de participar do sequestro e assassinato dos militantes peronistas (seguidores das ideias políticas de Juan Domingo Perón), Osvaldo Cambiaso e Eduardo Pereyra Rossi, em 1983.
Anos se passaram e, somente em 2011, após seu silêncio durante o julgamento, a forte pressão de organizações de direitos humanos contra o clube Rosario Central forçaram Andrada (na época, com 73 anos) a renunciar ao seu cargo de treinador de goleiros. Em 2016, por falta de provas, o caso foi arquivado.
Diante de tamanha comoção contra Andrada, o ex-goleiro espião se isolou em seus últimos anos de vida, para evitar a retaliação sobre seus atos.