Pai de jogador exigiu cláusula contratual para que filho se tornasse médico
22/12/2022 às 15h15
Um dos jogadores jovens que se destacou no Botafogo do Rio de Janeiro em meados dos anos 1960 foi Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho. Ele chegou ao clube carioca em 1965, após ser revelado pelo XV de Jaú em 1962.
O acordo para que o garoto fosse para o Rio não envolvia apenas cifras e a condição de poder visitar os seus parentes sem gastar dinheiro. O pai do jogador entrou na negociação e impôs uma cláusula fundamental para sua contratação.
Doutor do Futebol
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As cifras que movimentam o as quatro linhas nos dias de hoje são estratosféricas. E, como futebol não se joga para sempre, muitos jovens não apostavam todas as fichas no esporte. Afinal, quando a carreira acabasse, ou mesmo se fosse interrompida por alguma lesão, como sobreviver?
Afonsinho, com 17 anos, foi indicado pelo colega Américo para o Botafogo. Valter Vasconcelos, diretor do juvenil do clube, logo foi atrás do garoto, que já se destacava no XV de Jaú.
“As exigências que meu pai fez para concordar com a minha transferência foram as seguintes: matrícula no vestibular de medicina, alimentação sadia e residência num ambiente decente e honesto”, contou Afonsinho à Revista do Esporte em 1966.
Amador X Profissional
A década de 1930 ficou marcada pelo reconhecimento oficial da profissionalização do futebol no Brasil. Ao ganhar mais expressão, a modalidade deixou de ser apenas lazer, possibilitando que uma minoria ganhasse a vida através do futebol.
Nos anos 1950, ainda existia diferenciação entre as duas categorias. Resumidamente, jogador profissional era aquele que vivia de futebol, que assinava contratos oficiais e se dedicava apenas às quatro linhas. Em contrapartida, o jogador amador tinha o futebol como uma espécie de hobby, era a sua segunda opção. O jogador amador tinha uma outra profissão paralela ou se dedicava aos estudos, como Afonsinho.
“É claro que o fato de eu receber alimentação e ajuda de custas para estudos e condução não me tornaram profissional. Para assinar contrato, assinaria mesmo com o XV de Novembro de Jaú, que várias vezes tentou firmar compromisso comigo”, revelou o jogador na época.
Doutor quatro vezes carioca
Na época, o meia-armador Afonsinho iniciava seus passos pelo Botafogo, queria se firmar como titular e ter uma longa carreira como jogador. Foi campeão pelo Bota várias vezes, chegando a ser capitão da equipe que venceu o Campeonato Brasileiro (Taça Brasil) de 1968. Inclusive, o ex-jogador faz parte de uma lista de 17 atletas que jogaram pelos quatro grandes clubes do Rio.
Enquanto jogava futebol, Afonsinho cursava medicina, bem como participava de movimentos estudantis, sendo politizado e combativo. Ficou famoso por ser o primeiro jogador a conseguir passe livre no Brasil, em março de 1971, após lutar na justiça por esse direito em plena ditadura militar.
Afonsinho conseguiu ser bem sucedido nas duas profissões que escolheu, já que se formou em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da UERJ e trabalhou no Instituto Pinel durante cerca de trinta anos, até se aposentar. Lá, utilizou o esporte como complemento do tratamento psiquiátrico.